Crítica | The White Lotus - 3ª temporada


Na terceira temporada de The White Lotus, Mike White leva sua sátira social a um novo território — geográfico e existencial. Agora ambientada na Tailândia, a série troca o hedonismo pelo espiritual, sem perder o olhar cínico sobre a elite que insiste em transformar qualquer espaço sagrado em playground de seus vícios. A beleza das paisagens tailandesas contrasta com os dilemas internos dos hóspedes, que buscam iluminação, redenção ou apenas um novo vício para mascarar o vazio. E mais uma vez, o resort se torna palco de tensão, segredos e morte.


O novo elenco injeta frescor à fórmula, com destaque para Parker Posey, que brilha como uma matriarca controladora em crise de fé. A série também marca o retorno de Natasha Rothwell como Belinda, agora mais cética e pragmática, em uma trajetória que ecoa — e distorce — sua história na primeira temporada. As dinâmicas entre os personagens são menos explosivas que nas temporadas anteriores, mas há uma carga emocional maior. A série aposta mais nos silêncios, nas hesitações, nas pequenas traições do cotidiano.


Imagem: Reprodução / Max

Se na primeira temporada o foco era o dinheiro, e na segunda, o sexo, aqui é o espírito que entra em conflito. The White Lotus se arrisca ao flertar com o metafísico — retiros espirituais, gurus duvidosos, e práticas ancestrais tratadas com o mesmo deboche com que se aborda o brunch. A crítica continua afiada, especialmente quando expõe o esvaziamento cultural promovido por turistas em busca de autenticidade de boutique. O desconforto é constante, não só pelas situações, mas pelo que elas revelam sobre um mundo que consome tudo — até a espiritualidade.


A direção mantém o padrão estético impecável da série: planos amplos, trilha inquietante e composições que reforçam a sensação de que estamos observando uma farsa prestes a ruir. O ritmo é mais contemplativo, o que pode afastar quem espera o ritmo voraz das temporadas anteriores. Mas há uma recompensa nisso: a série nos convida a prestar atenção nos detalhes, nos olhares, nas camadas não ditas. E quando o clímax finalmente chega, ele parece mais uma consequência natural do colapso emocional acumulado.


Imagem: Reprodução / Max

Mesmo com sua proposta mais filosófica, a terceira temporada não escapa de algumas repetições. Certas dinâmicas soam recicladas, e o mistério da morte — marca registrada da série — aqui parece menos impactante. A fórmula ainda funciona, mas começa a dar sinais de desgaste. O final, embora visualmente impactante, deixa perguntas demais no ar, o que pode dividir o público. Ainda assim, o desconforto que a série provoca é proposital — e necessário — para quem acompanha não pela trama, mas pelo mergulho psicológico.


No fim das contas, The White Lotus continua sendo um dos retratos mais incisivos da elite contemporânea, mesmo quando se aproxima do esgotamento criativo. A terceira temporada talvez não atinja o mesmo impacto das anteriores, mas tem coragem de ousar, de mudar o foco, de buscar novos caminhos narrativos. E se isso não funciona o tempo todo, ao menos mostra que a série ainda está disposta a provocar — e isso, por si só, já vale o ingresso nesse resort onde todo mundo está em crise, inclusive o próprio criador.

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