Crítica | Adolescência


A minissérie britânica Adolescência, criada por Jack Thorne e Stephen Graham e dirigida por Philip Barantini, mergulha em um drama policial que transcende a narrativa tradicional do gênero. A trama acompanha Jamie Miller, um adolescente de 13 anos acusado de assassinar sua colega de escola, Katie Leonard. Com apenas quatro episódios, a produção se destaca pela abordagem crua e imersiva, utilizando planos-sequência que ampliam a tensão e a sensação de realismo. A série não apenas explora o crime em si, mas também as camadas sociais e psicológicas que moldam a juventude na era digital.


O maior mérito de Adolescência está na sua linguagem cinematográfica. O uso de planos-sequência – recurso já explorado em filmes como 1917 e Birdman – cria uma experiência claustrofóbica, onde o espectador se sente preso dentro da história, sem a fuga proporcionada por cortes convencionais. Essa escolha não é apenas estilística, mas também narrativa: ao seguir Jamie sem interrupções, a série enfatiza a pressão esmagadora que recai sobre ele, seja no ambiente escolar, familiar ou judicial. Barantini conduz essa proposta com maestria, criando uma obra que é visualmente impactante e emocionalmente exaustiva.


Imagem: Reprodução / Netflix

O elenco entrega performances impressionantes, com Owen Cooper se destacando no papel de Jamie. Seu retrato da adolescência é multifacetado, oscilando entre inocência e raiva reprimida, capturando a complexidade do personagem sem cair em estereótipos. Stephen Graham, que interpreta Eddie Miller, o pai de Jamie, entrega uma atuação devastadora, personificando um homem dividido entre proteger o filho e lidar com a gravidade das acusações. A dinâmica entre os dois atores adiciona um peso emocional à história, tornando o drama ainda mais visceral.


Além do mistério central, a minissérie se propõe a discutir temas contemporâneos como masculinidade tóxica, cyberbullying e a influência das redes sociais na formação da identidade jovem. Adolescência não apenas ilustra as consequências trágicas da radicalização online, mas também questiona até que ponto o ambiente digital pode moldar – ou distorcer – a percepção da realidade de um adolescente. A série levanta debates importantes sobre a responsabilidade dos pais, escolas e da sociedade diante desse cenário, sem oferecer respostas fáceis.


Imagem: Reprodução / Netflix


A recepção crítica tem sido amplamente positiva, e com razão. A série não apenas inova tecnicamente, mas também emociona e provoca reflexões profundas. Seu ritmo intenso e a abordagem quase documental garantem que cada episódio seja um soco no estômago, deixando o espectador inquieto muito depois dos créditos finais. A escolha de manter algumas perguntas sem resposta reforça a ambiguidade moral da trama, evitando soluções simplistas e convidando o público a interpretar os eventos a partir de diferentes perspectivas.


No fim, Adolescência se consolida como uma das produções mais impactantes do ano. Seu olhar implacável sobre a juventude contemporânea é um lembrete da fragilidade desse período da vida e dos perigos que podem surgir quando a vulnerabilidade adolescente encontra as sombras da internet. É uma obra obrigatória para quem busca uma narrativa envolvente e um retrato autêntico dos dilemas da geração digital.

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