Emília Pérez, novo filme de Jacques Audiard, tenta misturar drama criminal e musical para contar uma história de transformação e identidade, mas o resultado é irregular e, em muitos momentos, frustrante. A trama gira em torno de Rita (Zoe Saldaña), uma advogada que recebe um pedido inusitado: ajudar um temido chefe do narcotráfico a desaparecer e renascer como Emília Pérez. A premissa é interessante, mas o filme se perde em sua execução, apostando em um tom grandioso que nem sempre se justifica. Em vez de uma história envolvente, o que vemos é uma experiência desconexa, que não equilibra bem seus elementos narrativos.
A atuação de Karla Sofía Gascón como Emília é, sem dúvida, o ponto alto do filme. Ela traz intensidade e humanidade à personagem, tornando-a complexa e crível. No entanto, o roteiro não lhe dá espaço suficiente para que sua transformação tenha o impacto emocional que deveria ter. Saldaña, que tem uma presença forte, fica presa a uma personagem mal desenvolvida, cuja função na história nunca parece clara. Selena Gomez e Edgar Ramírez completam o elenco, mas seus papéis são pouco explorados, deixando a sensação de que poderiam ter sido melhor aproveitados.
Visualmente, o filme tem momentos interessantes, mas a estética vibrante e estilizada muitas vezes parece deslocada em relação à seriedade da trama. Audiard tenta criar um contraste entre o realismo cru e a atmosfera quase onírica das sequências musicais, mas a transição entre esses dois mundos raramente funciona de forma fluida. Em vez de potencializar a experiência, a direção de arte e a cinematografia acabam tornando tudo artificial, dificultando a imersão no drama dos personagens. O resultado é um filme visualmente chamativo, mas emocionalmente distante.
O maior problema de Emília Pérez está na sua tentativa de ser um musical. As músicas, em vez de complementarem a narrativa, parecem inseridas de forma forçada, sem uma real justificativa dramática. A trilha sonora poderia ser um elemento poderoso, mas, em vez disso, muitas cenas musicais soam excessivas e desnecessárias. A sensação é de que o filme não confia no seu próprio drama e tenta compensar isso com grandiosidade sonora, sem conseguir criar momentos realmente marcantes. A tentativa de inovar no gênero acaba comprometendo a fluidez da história.
A história em si tem potencial, mas não se desenvolve de maneira satisfatória. A jornada de Emília, que deveria ser o coração do filme, perde força porque o roteiro não aprofunda os dilemas da personagem. Há um esforço para discutir temas como identidade, redenção e pertencimento, mas tudo é tratado de forma superficial. No fim, o filme parece mais interessado em sua estética e em sua proposta ousada do que em realmente contar uma história que emocione ou envolva o público. O ritmo irregular e a falta de conexão entre os elementos narrativos tornam a experiência cansativa.
No geral, Emília Pérez é uma decepção. Apesar da forte atuação de Gascón e de alguns momentos visualmente interessantes, o filme não consegue equilibrar suas ambições com uma narrativa coesa. A mistura de gêneros poderia ter sido um diferencial, mas acaba se tornando um dos maiores problemas da obra. A falta de um tom definido e a execução falha das sequências musicais fazem com que a história perca impacto, deixando a sensação de que o filme poderia ter sido muito mais envolvente do que realmente é.