É natural quando se cria expectativas por um filme, seja pela afetividade com a história, seja pela admiração por quem faz o protagonista, por exemplo, e acabar se frustrando com o que se vê na tela do cinema. Tendo a encarar isso como uma forma de bloqueio (que já tive com obras que tenho mais afinco), sendo preciso ser destravado. Com Morbius (2022), pode ser que esteja ocorrendo isso.
Olhando aspectos mais positivos, vale elogiar as breves imagens do início em uma floresta tropical na Costa Rica são de tirar o fôlego (mas talvez por eu gostar do verde e da natureza, isso vai de cada um). No todo, fiquei animado com as ótimas sequências de ação, sobretudo aquelas em que envolviam saltos de prédios altíssimos. Contudo, que nem tudo são flores e acabam de fato decepcionando ou no mínimo trazendo estranhamentos. Já com prazo de vida “passando da validade” devido a uma perigosa doença rara no sangue, o médico se vê determinado a solucionar esse problema e cria uma substância que o levará a desbloquear inexplicáveis extintos impulsivos e vontade por beber sangue. Quando se transforma, uma espécie de matéria escura bizarra rodeia Michael Morbius, o que parece meio sem sentido, mas você se acostuma após o início.
Para chegar a esse ponto, ele já tinha abdicado de vários princípios éticos e bioéticos da medicina, tendo inclusive feito o experimento que o transformou em águas internacionais, para tentar evitar alguma punição perante entidades de medicina dos EUA e instituições criminais. Quem abdica de ganhar o Nobel da Paz? Alguém que sabe exatamente o que precisa fazer além desses fatores limitantes éticos – não que ele esteja certo por isso – em prol do objetivo de salvar àqueles com a mesma condição que a sua, como seu amigo Milo/Lucius (Matt Smith). Ele só não esperava que o anseio de Milo por se curar o fizesse fazer algo que ele pediu para não ser feito.
E até que ponto vai os limites éticos para salvar uma vida? Sua própria vida? Para Michael Morbius, isso de fato não se aplica se uma vida, mesmo que seja a sua, está em jogo. Ele precisava se arriscar, mesmo sem saber das consequências. E também por isso é válido dizer que não dá pra negar o esforço que essa sequência faz para tornar o personagem vivido por Jared Leto mais real e até mesmo menos inconsequente do que poderia ser. Dr. Morbius sabe a criação que ele fez e busca solucionar isso, mesmo que possa resultar em seu próprio fim.
No geral, a nova produção do diretor Daniel Espinosa parece ser um bom filme, mas apesar de ser possível tirar aspectos positivos, a impressão que fica é que os personagens e a história poderiam ter sido melhor explorados. Até certo ponto não consegui entender o que Martine Bancroft (Adria Arjona) fazia ali para além de ser um auxílio ao Morbius. Talvez por isso, agora sim admito, alguns fãs podem se decepcionar. Porém, sempre acredito que seja melhor você ver com os próprios olhos e tenha sua própria visão sobre. Morbius, uma coprodução entre a Columbia Pictures e a Marvel Entertainment e distribuição Sony Pictures, estreia hoje exclusivamente nos cinemas. Confira o trailer abaixo e lembre-se: se for ir ao cinema, use uma boa máscara como as do tipo PFF2 ou N95 e busque manter distanciamento, se possível.