Começamos nossa história com Eloise (Thomasin McKenzie) sendo aceita em uma grande universidade de moda em Londres. O que parecia ser um grande sonho, passa por um grande balde de água fria ao se deparar com a realidade de garotas fúteis e malvadas. Sabe o típico roteiro norte-americano de mocinhas do campo sendo excluídas pelas mulheres da cidade que julgam saber tudo da vida? É isso que Eloise vive nos seus caóticos dias morando em uma república.
Calma, você pode estar pensando que a história é sobre isso. Bom, não é. Tudo começa quando Eloise sai dessa república para morar em uma casa com uma idosa que desde o início parecia suspeita. A garota que já via fantasma, ganhou mais uma para acompanhar o passado de perto: Sandie (Anya Taylor-Joy). Dessa vez, no entanto, havia muito mais do que uma simples história macabra, aqui fomos apresentados ao terror de ser uma mulher tentando ser artista na gigante cidade Londres.
Imagem: Reprodução/Universal Pictures |
O ponto principal é a aflição que sentimos ao vermos aquela história que se repete no presente de diversas mulheres. Além disso, o filme que talvez nem quisesse isso, pode despertar inúmeros gatilhos em mulheres que já sofreram agressão. Mesmo que o final de Sandie tenha sido satisfatório no ponto de vista do arco aberto, diversas mulheres não teriam a mesma sorte caso optassem pela solução escolhida.
Sandie é uma sobrevivente e disso ninguém pode discordar. O filme de Edgar Wright (Em Ritmo de Fuga) é uma grande obra de thriller com toque de terror, talvez você julgue a produção como negativa se olhar somente a perspectiva do medo. O filme não se compromete em te assustar com aparições não reais de monstros escondidos. O longa precisa que você entenda que o terror está na história real e nos personagens reais. Não há nada de fictício nisso.
Imagem: Reprodução/Universal Pictures |
Sandie viveu abusos e reagiu a isso da forma como pôde, o retrato que Wright trouxe sobre isso foi brilhante do ponto de vista expositivo. Ainda que algumas coisas possam ter parecido toscas, era exatamente isso que fazia sentido para a jovem que só queria ser uma grande atriz em Londres. Noite Passada em Soho pecou talvez por ter feito o que todos os diretores homens fazem ao falarem de abusos: colocam a perspectiva deles diante de algo que é muito mais sobre a vítima. Se algo faltou nessa produção, foi o toque feminino de sororidade que transcende a cena final de abraço entre o passado e o presente. Eloise vê no espelho grandes mulheres e quase grita para ele que acredita nelas, mas em qual momento da realidade isso esteve realmente presente?
Falar de abusos e colocar isso em uma visão feminina de vingança não pode ser perdido. Noite Passada em Soho foi uma aposta que, para além das pequenas falhas, se destacou pela composição total. Isso é algo louvável para Wright e para todas as mulheres que encontraram um pouco de suas histórias no filme. É uma grande produção, poderia ganhar uma visão mais feminina, talvez, mas não foi algo que arruinou toda a construção. Vale a pena ir ao cinema, mesmo que nesse momento incerto, para ver e contemplar as boas atuações de duas grandes promessas do cinema Hollywoodiano. O filme está em cartaz nos cinemas e se você se sente seguro para ir, prefira comprar os seus ingressos pelo site do cinema, e lembre-se de manter o distanciamento seguro, manter suas mãos higienizadas e usar uma boa máscara no rosto o tempo todo.