Crítica | Fate: A Saga Winx


Série britânica baseada no desenho italiano O Clube das Winx supera expectativas para aqueles que entenderam que live-action não significa representação literal de obra original


Prestes a completar um mês de lançamento mundial na Netflix, ontem (18) a série europeia Fate: A Saga Winx foi renovada para uma necessária e já previsível segunda temporada. Gravada no último semestre de 2019, a história baseada no clássico desenho italiano O Clube das Winx causou alvoroço quando lançado o primeiro teaser em dezembro de 2020.


Ao basear-se na história italiana, Fate aqui apresenta uma nova roupagem e caminhos para as já conhecidas fadas. Contando com a ausência de dois nomes do desenho original (as personagens Flora e Tecna) a série recebeu críticas por supostamente apagar origens das personagens: Flora, que no desenho possui traços latinos, foi substituída por Terra (Eliot Salt), uma jovem branca e não padrão; já a Musa da animação tinha claras indicações de que possuía ascendência asiática, porém sua personagem, que também teve “poder” modificado, é interpretada por uma europeia (Elisha Applebaum).


Terra (Eliot Salt) e Musa (Elisha Applebaum) treinam seus poderes em aula. Créditos: Reprodução / NETFLIX / Archery Pictures Production / Rainbow 

Apesar do criador de O Clube das Winx, Iginio Straffi, ser também produtor executivo de Fate, é preciso deixar claro que para uma adaptação live-action propostas podem e devem surgir para trazer novas características da produção. Talvez por isso eu não julgo muito as mudanças feitas, já que, a princípio, permanecem algumas premissas do desenho como: o protagonismo de Bloom (Abigail Cowen) e sua descoberta por um mundo mágico, literalmente chamado Outro Mundo, onde fica Alfea.


Alfea é um internato mágico e sua locação fica na Irlanda. Créditos: Reprodução / NETFLIX / Archery Pictures Production / Rainbow 

Na série, Alfea é a escola de formação de fadas e especialistas, um internato mágico para treinamento de ambas categorias. Aqui um ponto positivo é que, ao contrário do desenho, não há divisão entre rapazes e moças para serem respectivamente, especialistas e fadas. Há fadas homens e especialistas mulheres. Mesmo que ambas funções não sejam estritamente mostradas como um todo, já que faltou colocar mais das aulas, por exemplo. Aliás, essa é uma das falhas da série que foca em apresentar muitos personagens e núcleos sem oferecer o devido aprofundamento deles no seu limitado número de episódios: apenas seis.


Com plano de fundo padrão em que dramas adolescentes são bem comuns, lidar com as emoções, romances e amizades serão o elo de toda narrativa. Em Fate, vemos uma Bloom que não sabe sua própria origem e não medirá esforços para descobrir quem de fato ela é após saber que é uma fada. Essa vontade por saber suas origens leva Bloom a ficar desacreditada com quem ela pode colher informações, como Farah Dowling (Eve Best), diretora de Alfea que por certas etapas não é possível identificar logo de cara se ela é vilã ou não.


Bloom (Abigail Cowen) chega da Califórnia com bastante dúvidas sobre suas origens e conversa com a diretora Dowling (Eve Best). Créditos: Jonathan Hession/NETFLIX © 2020


Única “terráquea” do grupo, Bloom se envolve aos poucos com as futuras amigas: Aisha (Precious Mustapha) uma fada da água, Stella (Hannah van der Westhuysen), princesa de Solária e fada com habilidade de controlar a luz; Terra, cujo nome já é sugestivo para seus poderes; e Musa, que aqui é uma fada da mente e empata (no desenho ela é a fada da música/som). Até mesmo com Beatrix (Sadie Soverall), personagem misteriosa que podemos considerar a junção das bruxas “Trix” do desenho, Bloom se envolve já que esta incrivelmente sabe bastante coisa do Outro Mundo.

Mesmo assumindo um papel mais para vilã, Beatrix (Sadie Soverall) pode conseguir arrancar certo carisma do público. Créditos: Jonathan Hession/NETFLIX © 2020


A ruiva da Califórnia ainda desenvolve sentimentos por Sky (Danny Griffin), um dos especialistas que em parte dos episódios é namorado e ex de Stella. Em Outro Mundo uma ameaça surge no mesmo período em que Bloom manifesta pela primeira vez seus poderes de fogo, ainda na Terra. Terá sido coincidência? Esse spoiler não vou dar para vocês, mas adianto que os embates de Bloom, ajudada pelas amigas, com os chamados Queimados, são épicos. Isso devido a nossa fada do fogo possuir a Chama do Dragão, tornando-se assim uma das mais poderosas fadas sem que ela ao menos saiba disso.


Criaturas mortais e até então desaparecidas, os queimados ressurgem no Outro Mundo. Créditos: Reprodução / NETFLIX / Archery Pictures Production / Rainbow 


Impressionada que as fadas não possuíam asas em Alfea, a diretora Farah explica que com o passar do tempo as fadas evoluíram e perderam a característica. Será mesmo? Bom, provavelmente vocês já sabem a resposta se conferiram as redes sociais nas últimas semanas.


Gravado na Irlanda com 50% das cenas em estúdio e 50% em locações, Fate apresenta efeitos visuais que variam de modestos a excelentes a depender da situação. Claro que não cabe a nós exigir alto investimento tecnológico para uma produção que se mostra incerta e que, por muito pouco, não precisou ser adiada ainda mais já que seu processo de pós-produção ocorreu praticamente durante a vigência da pandemia do novo coronavírus que perdura até o presente momento. No geral, eles de fato são muito bons e conseguem atender as demandas dos personagens que não estão a todo momento mostrando suas forças.


Apesar de diferentes, o grupo das "Winx" precisa se unir e aprender a lidar com seus poderes enquanto lidam com monstros ameaçadores. Créditos: Jonathan Hession/NETFLIX © 2020


Falando em forças, uma das personagens mais misteriosas e também poderosas não poderia deixar de constar nesta crítica: Rosalind (Lesley Sharp). “Aprisionada” após liderar a destruição de uma vila no mundo mágico, de alguma forma foi a fada (até onde sabemos, mas não vou adentrar em teorias rs) e antiga diretora de Alfea quem deixou Bloom no planeta Terra, fazendo com que a jovem tivesse uma memória para encontrá-la no futuro, quase como um prenúncio do que aconteceria em seguida e que vemos nos episódios.


Bloom vai ao encontro de Rosalind (Lesley Sharp) que está em lugar secreto de Alfea. Créditos: Reprodução / NETFLIX / Archery Pictures Production / Rainbow 

Mesmo com algumas falhas já citadas como a falta de exploração de alguns eixos (e eu nem citei todos aqui como alguns romances e professores), Fate foi uma série que me impressionou não apenas pela nostalgia de já ter assistido o desenho antes (apesar dele, justificavelmente, não ser apresentado de forma literal), mas também por entregar uma narrativa que se mostrou coerente com uma primeira temporada de série disposta a se apresentar ao público e já com indícios de continuação. 


Talvez por isso eu compreenda que o número baixo de episódios seja pelo fato de se apresentar um material mais enxuto e introdutório para algo grandioso que está por vir. E eu falo como uma pessoa que acabou os episódios e fiquei indignado por querer ao menos mais dois, passando a acreditar que esses seis episódios seriam apenas a primeira parte da temporada que soltaria outros inéditos de surpresa. Fanfic não real, já que a segunda temporada, como falado no começo deste texto, felizmente foi renovada. 


Sozinha, Bloom vai em busca de desvendar os segredos da sua origem e poderes, podendo ser interpretada até mesmo como egoísta. Créditos: Jonathan Hession/NETFLIX © 2020

Deixo aqui meus méritos para a trilha sonora, com alguns hits recentes como Physical (Dua Lipa), já que a série também possui ar contemporâneo com estudantes com smartphones e até mesmo redes sociais. Confesso que estou viciado na música que toca logo no início, Kids In The Corner (Amber Van Day) e em outra de um momento fantástico e mágico...


Bom, estou mais que pronto para saber o que virá na nova temporada, como Bloom encontrará mais respostas sobre si e qual será os caminhos que o Outro Mundo tomará com todas mudanças ocorridas no espetacular último episódio. 


Os especialistas Sky (Danny Griffin), que acreditava que o pai estava morto, e seu amigo Riven que deixa no ar uma possível bissexualidade. Créditos: Reprodução / NETFLIX 

Fate: A Saga Winx é uma série original da Netflix produzida pela  Archery Pictures Production em parceria com Rainbow. Brian Young é o showrunner e produtor executivo, junto com Judy Counihan e Kris Thykier da Archery Pictures, além de Cristiana Buzzelli e Joanne Lee da Rainbow, outras produtoras executivas. Dos personagens destaques que não citei ao longo do texto temos os especialistas Riven (Freddie Thorp) e Dane (Theo Graham); o irmão de Terra que é uma fada, Sam (Jacob Dudman); o instrutor de Alfea e guardião de Sky, Saúl Silva (Robert James-Collier); a mãe adotiva de Bloom, Vanessa Peters (Eva Birthistle) e seu pai adotivo Mike Peters (Josh Cowdery). Confira abaixo o trailer oficial da primeira temporada.


Nota ⭐⭐ 4/5




Postagem Anterior Próxima Postagem