Review | Watch Dogs: Legion

Escrito por: Kevin Santana

Watch Dogs: Legion veio com a intenção completamente inovadora e ousada. Um mundo aberto onde todos os NPCs (literalmente) poderiam ser recrutados e controlados pelo jogador, cada um com sua motivação e história, e ao lado dessa proposta toda, o medo da morte permanente desse personagem. Esse foi o que a Ubisoft anunciou e proporcionou, e uma coisa ficou bem esclarecida: Nada é o que parece.


Distopia interessante


Ainden Pierce, em Watch Dogs 1, era um hacker que decidiu utilizar suas habilidades para vingar a morte da sua sobrinha pelas mãos da Blume. No segundo game (o meu favorito), Marcus Holloway foi acusado injustamente pelo sistema automático de detecção de crimes da Blume, sem ao menos ter cometido, e por todas essas variáveis decidiu que era a hora de pôr um fim no software opressor. Em Legion não existe uma conclusão narrativa que irá guiar o jogador até uma conclusão. A única coisa que existe é uma ideia.



O grupo DedSec foi acusado por um atentado terrorista em Londres, cuja o verdadeiro autor pelo atentado é um hacker proclamado de ZERO-DAY. No meio dessa confusão toda, a Albion, uma empresa de segurança privada, usa o atentado como forma de expandir sua influência na cidade e, tomar o poder para si utilizando um software anticrimes, drones de combate e a constante opressão contra a população. 


Sem membros em operação, o único membro ativo do DedSec é Bagley, uma inteligência artificial sofisticada que acompanha o player o tempo todo durante a campanha. Através de um recrutamento feito às pressas, o jogador acaba se reconectando ao grupo através do seu esconderijo e do seu único membro ativo no momento: Sabine Brandt. É ela quem guia o jogador através da história principal e tenta criar um elo com o jogador e a causa que todos no jogo acreditam. 


A ideia mal executada


No meio dos cidadãos de Londres, precisamos encontrar pessoas aptas para realizar as mais diferentes tarefas, desde a invasão de instalações particulares até missões suicidas. Podemos recrutar do morador de rua ao astro de cinema, vale literalmente tudo. Qualquer personagem pode ser membro do DedSec.


A ideia é promissora, porém mal executada. Todos os personagens do jogo possuem fichas com informações pessoais, bens pessoais e até algum tipo de relacionamento ou parentesco com outro NPC que você já tenha entrado em contato anteriormente, e todos eles podem ser recrutados. Cada recrutamento é uma missão secundária gerando missões em três etapas: o possível candidato, o primeiro contato e, por fim, a troca equivalente: “me ajuda que eu te ajudo”.



Via de regra, é quase sempre que isso acontece, o que muda um pouco são os problemas de cada NPC, apesar que tive o desprazer de realizar muitas missões idênticas de NPCs completamente diferentes e de regiões completamente diferentes. É óbvio que já sabíamos desde o anúncio do game que essas missões iriam se repetir em algum momento, porém não imaginava que seria logo de cara. 


O que é interessante, é que não necessariamente precisamos realizar o processo de recrutamento na hora que escolhemos o candidato. Podemos perfilar o possível candidato a qualquer momento, e deixar para depois o recrutamento e realizar as missões secundárias.



Em determinado momento da minha gameplay a ficha caiu e a bad bateu (como todos os Watch Dogs anteriores): aos poucos fui percebendo que a minha intromissão no mundo do game é tão nociva ou mais que a dos vilões do game. Porém em Legion há uma diferença maior: não há empatia com ninguém, porque não dá tempo de gostar de ninguém. 


Tudo fica ainda pior quando o modo Morte Permanente está ligado. A opção, que lá na primeira demo do game fazia parte da experiência de forma mais incisiva, agora funciona como modo “hard” do game. Caso ela não esteja ligada, seu personagem ficará de fora da ação por um tempo, mas logo retorna ao combate.


Um coisa que comprometeu pelo menos a minha imersão do game, é na hora de escolher o melhor personagem para realizar uma determinada missão: de vez em quando eu fiquei com a sensação de ter feito a escolha errada e ter utilizado um personagem muito piadista, ou meio burro, não sei dizer ao certo, mas a sensação que me passou é de que quase nunca é um cara engajado e participativo na trama que esperava encontrar.


Aquela famosa receita de bolo


Watch Dogs: Legion é a mais nova aposta da Ubisoft, mas é impossível não falar que é aquela clássica receita de bolo da empresa com jogos de mundo aberto. O aprendizado contínuo, explora cada um dos jogos já publicados por eles nos anos anteriores, cheio de referências aqui e ali.


Mecânicas de jogo e fluidez na ação seguem numa constante evolução desde o primeiro jogo da franquia. Em Watch Dogs 2 melhorou muito a experiência de usuário e o caminho a ser seguido por Legion se ergue numa base sólida e bem aproveitada da aventura anterior, porém com seus constantes bugs e físicas mal feitas.


Uma Londres completamente gigantesca, rica em detalhes, cheia de pontos turísticos para se visitar, como geralmente acontece na franquia Assassin’s Creed, também da Ubisoft. 



falando em AC, as lutas de boxe (uma das histórias secundárias) em muito se parecem com as disputas de AC: Syndicate (aquele da Revolução Industrial), o que faz bastante sentido. Os cenários sofrem a interferência da narrativa e reflete uma situação de extremismo político e disparidade social.


Os prédios funcionam como um quebra-cabeça único de exploração, colocando o jogador para pensar na melhor maneira de alcançar seus objetivos, seja na pura e simples escalada, ou através de invasões de sistemas, câmeras de segurança e portas chaveadas eletronicamente. Para os mais preguiçosos, os drones de carga servem como plataformas aéreas que estragam toda a diversão e te tira da imersão.


A cidade é dividida por regiões e cada uma delas tem seu próprio nível de “revolta”. Ao criarmos o caos em um determinado bairro através das mais diversas formas de vandalismo, cartazes, assassinatos de pessoas importantes, destruição de propriedade privada etc. O status da região é alterado e com isso, trazemos os civis para lutar ao lado do DedSec.



Lado a lado com a campanha principal, precisamos enfrentar alguns perigos mais imediatos. Líderes de gangues, cientistas malucos e uma milícia particular fortemente armada. E se você já conhece como as coisas rolam em Watch Dogs, sabe que as melhores histórias são contadas paralelamente à trama principal. Essas aventuras menores acabam muitas vezes se tornando muito mais interessantes do que a principal.


Faça sua gameplay única


Watch Dogs: Legion brilha e muito na hora de conduzir o jogador durante suas missões. Em linhas gerais, não existe um caminho principal, ou uma forma oficial de agir ou completar qualquer missão do jogo.


A liberdade que você tem na hora de criar seu próprio gameplay é bastante vasta, visto o tamanho leque de variedades. O fato de não existir um personagem fixo, por exemplo, faz com que os jogadores provavelmente nunca utilizem o mesmo personagem nas missões, e como consequência disso não devem assistir à mesma cutscene (seria impossível testar com todo mundo, mas deu para entender a ideia).



Se quiser, o jogador pode ir no modo “Rambo”: chegar atirando em tudo que se mexe. Funciona em alguns casos, mas obviamente não é o mais eficiente. Procurar por pistas e hackear câmeras de vídeo em busca de acessos privados e rotinas de soldados continua sendo a forma mais eficiente e na minha opinião a melhor para agir em missões.


E outra coisa: todo o mundo do jogo está conectado remotamente ao ctOS do jogo o que é bizarro, e por isso, quase qualquer coisa pode ser vista como algo com potencial de ser hackeado e se tronar uma arma letal. Carros se tornam armas descartáveis, bloqueios de rua eletrônicos podem salvá-lo de uma perseguição, torre inimigas podem salvá-lo em momentos de tensão. Tudo vai depender de quantos upgrades de personagem você tiver destravado.


Isso é muito Black Mirror


Watch Dogs: Legion acaba lembrando muito um episódio maluco de Black Mirror, daqueles bem pesados que explodem nossa cabeça e as vezes nos fazem sentir mal, apresentando uma ótica pessimista de que toda vida é descartável pelo bem maior, faz com que pensemos bastante a respeito. Ao mesmo tempo perde na reciclagem de gameplay e nos temas abordados que acaba sendo sempre os mesmos dos jogos anteriores e no tema relacionado a essa distopia futurista. Não é lá um bom jogo, mas também, não fará muita diferença no futuro.  


Watch Dogs Legion chegou no dia 29 de outubro para PC, PS4, Xbox One e Stadia. O jogo também estará disponível para PS5, Xbox Series X e S. Esse review foi feito com uma cópia do jogo fornecida pela Ubisoft em um Playstation 4.




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