Crítica | O 3º andar - Terror na Rua Malasaña

Escrito por: Adam William

Berço de diretores como Guillermo Del Toro e filmes como REC e Os Outros, o cinema espanhol é um dos mais interessantes quando se fala do gênero de terror. Ainda assim, nada é unânime e, portanto, existem algumas obras que não funcionam tão bem quanto outras. E o caso de O 3º andar - Terror na Rua Malasaña de Albert Pintó é justamente o de uma obra que traz conceitos bastante interessantes, mas não se sobressai por ser, em suma, pouco inspirado.


O filme traz uma trama bastante familiar para os fãs do gênero: nos anos 70 em um bairro de Madrid, uma família se muda para um novo lar onde coisas estranhas começam a acontecer. É um tipo esquema de “mansão mal-assombrada”, ainda que não se passe, de fato, em uma mansão onde a família se vê como vítima de aparições grotescas, com direito a uma médium e até mesmo a uma criança que desaparece, sequestrada pelo sobrenatural. É uma bagagem de clichês que justifica-se através da frase baseado em fatos que tenta, sem sucesso, tirar o peso de um roteiro que está apresentando ao público uma história que já fora contada tantas vezes.



Entretanto, partindo do preceito de que a história não precisa necessariamente ser inédita ou original para ser boa tendo em vista que existem, sim, bons remakes, onde residem os problemas de O 3º Andar, de fato? A repetição por si só não é um problema, exceto pelo fato de que tudo que é visto aqui já fora visto anteriormente de forma melhor. 


A atmosfera, por exemplo, é quase completamente inspirada pelo trabalho de James Wan em seu Invocação do Mal e se não bastasse as similaridades com a trama, o estilo de direção guarda similaridades claras, como as construções para os jump scares. Infelizmente, falta a sutileza de Wan, que sabe trabalhar muito bem as nuances do susto.



A construção do sobrenatural também possui seus problemas. Não há um antagonista marcante como foram a boneca Annabelle ou a Freira ambas do já citado Invocação do Mal e que impactaram o suficiente para ganhar seus próprios longas, ainda que de qualidade duvidosa e comete um dos maiores deslizes de uma obra do tipo, pois soa galhofa sempre que entra em cena. 


Se O 3º Andar se propusesse a ser um “terror”, teria funcionado, mas claramente não é o caso. Sem criar uma conexão genuína com o espectador, resta a este aguardar pacientemente pelo próximo susto, precisamente orquestrado através de aparições bruscas e efeitos de som altos.



Infelizmente, esse pouco esforço do roteiro escrito pela dupla Salvador S. Molina e David Orea desvaloriza os méritos de O  Andar, que não vive só de problemas. O design de produção da obra é bem afiado, recriando a época do filme de forma interessante e utilizando isso à favor da trama, atribuindo um aspecto ‘histórico’ ao filme. A fotografia que emprega tons de marrom/sépia em boa parte das cenas, não apenas funciona para dar a impressão de estar assistindo a um filme antigo, como cai bem em uma experiência que se orgulha de ser baseada em uma história real.


Em um mar de clichês mal-utilizados e uma direção que não fortalece, O 3º Andar: Terror na Rua Malasana parece nascer fadado ao ostracismo. Em um gênero de tantas possibilidades, Albert Pintó realiza algo que não encontra seu lugar e soa sem propósito, já que não impacta e sequer assusta um jump scare nunca irá funcionar se o espectador sabe exatamente quando este irá ocorrer, soando um simples exercício de reprise, pois não agrega nada de novo para o espectador que assistiu uma meia dúzia de filmes de terror dos últimos anos. Uma reprise bem insípida, diga-se de passagem.


Nota ⭐⭐ 2/5




Postagem Anterior Próxima Postagem