CHICO REI ENTRE NÓS, primeiro longa da diretora Joyce Prado, terá sua estreia mundial durante a 44a Mostra Internacional de Cinema, que esse ano acontece em formato online, entre os dias 22 de outubro e 04 de novembro. O filme tem como ponto de partida a história de Chico Rei e explora os ecos da escravidão brasileira na vida das pessoas negras nos dias de hoje, entendendo seus desafios e indicando alguns caminhos.
O filme partiu de uma ideia original da Abrolhos Filmes e após um longo trabalho de pesquisa chegou-se no recorte atual, onde CHICO REI ENTRE NÓS investiga quem foi Chico Rei, também conhecido como Galanga, e conta sua história de amor à sua comunidade. Segundo se conta, através da tradição oral, principalmente na região de Ouro Preto, em Minas Gerais, Chico Rei, foi trazido do Congo, onde era Rei, para o Brasil em 1740, e ele compra a própria liberdade, e após esse acontecimento, libertou muitas pessoas ao seu redor. Em gratidão, elas o coroaram em uma cerimônia que ficou conhecida como “Reinado” que ocorre anualmente na cidade de Ouro Preto.
O documentário busca entender quem são os Chico Reis dos dias de hoje, mostrando ao espectador o quão emancipador pode ser o sentimento de pertencimento à um coletivo, “A história das pessoas negros nos países colonizados, quando narrada, é geralmente contada através da perspectiva dos colonizadores. Pouco ou nada se sabe sobre quem foram as milhões de pessoas trazidas para o Brasil durante a escravidão. A População do país que precisa conhecer e reconhecer a história de seus antepassados. Compreender o impacto de suas ações para a sociedade atual.”, explica a diretora.
Joyce Prado ainda completa: “Ao longo do processo histórico de construção da nação, fomos marginalizados e desprovidos de nossa auto-estima. As nossas vidas foram continuamente apagadas e reprimidas; nosso direito de existir foi recusado. Como chegamos ao ponto em que estamos? Qual é a nossa verdadeira história?”.
Ao apresentar Chico Rei, o filme realiza uma contranarrativa ao apresentar a trajetória de resistência das pessoas negras e seus coletivos durante o período da escravidão, uma perspectiva negra sobre parte da história brasileira. Da mesma forma, os outros personagens narrados no documentário também encontram a si mesmos a partir da organização em grupo, mostram que o impacto é possível.
A narrativa de CHICO REI ENTRE NÓS é construída em um formato de “cartografia visual”, ou seja, busca por rimas entre o passado e o presente, mostrando por entre as linhas nas placas de rua, e construindo um mapa emocional da vida das pessoas negras. Enaltece a resistência negra no formato de arte, canto e dança, ocupação e construção, preservação e transmissão de conhecimento.
A equipe de filmagem de CHICO REI ENTRE NÓS foi inteiramente feminina e majoritariamente negra, fazendo com que os negros sejam protagonistas do filme em frente as câmeras, e donos de sua própria história. “Eu acredito que essa é a única maneira através da qual conseguimos falar com as pessoas negras ao redor do globo, que passam pelas mesmas lutas que nós; e também para todos aqueles que querem conhecer um pouco mais da nossa história. Nós precisamos entender que não estamos sozinhos. Nosso poder está em nos mantermos juntos, em existirmos coletivamente. “Auê, Chico Rei!”.”, completa a diretora Joyce Prado.