Crítica | Espírito de Família

Créditos: Cine Nomine - Same Player

Comédia dramática francesa mostra consequências da ausência paterna e também uma reconciliação familiar perfeita.

O longa francês Espírito de Família (L’Esprit de Famille, 2020) se inicia mostrando a dedicada carreira do escritor Alexandre (Guillaume de Tonquédec), que usa de seu tempo livre para escrever, até mesmo em momentos junto da família na casa dos pais, na linda região do Golfo de Morbihan, na França. Logo em uma das primeiras cenas vemos seu pai Jacques (François Berléand), renomado fotógrafo de eventos esportivos internacionais, querendo chamar sua atenção, mas é ignorado pelo filho. Segundos depois, ele morre na frente do escritório que Alexandre escrevia sua última história.

Daquele momento em diante, nada seria igual para o escritor. Dirigido e escrito por Éric Besnard (de Ca$h: O Grande Golpe, 2008), o filme mostra os percalços do velório e cremação e busca explorar os sentimentos da família, evidentemente abalada. Porém, o destino traria uma surpresa para Alexandre e, a partir dali, apenas ele escutava e via o pai, mais necessariamente, o seu espírito.

Alexandre (Guillaume de Tonquédec) vê o espírito do seu pai, Jacques (François Berléand) pela primeira vez. Créditos: Reprodução

É justamente isso que acaba rendendo diversas cenas de conversação, discussões e atrapalhadas criadas por conversas “fora de hora” quando Alexandre estava perto de alguém. Obtendo comportamentos para lá de estranhos ao lado da psicóloga (Émilie Caen), sua esposa Roxane (Isabelle Carré), sua mãe Marguerite (Josiane Balasko) e seu filho Max (Jules Gauzelin), todos eles ficam preocupados com o estado do escritor que decide ir com o filho para a casa da mãe após dois meses que o pai morreu.

Em meio a perda da humorada figura de Jacques, até mesmo o carrasco irmão Vincent (Jérémy Lopez), que parece estar lidando bem com a partida do pai, ao ver Alexandre confessar-lhe que ouve e vê o patriarca, diz que até neste momento ele quer usar da imaginação brilhante de escritor para se achar superior aos outros, que também estão sofrendo com a perda. Percebemos aqui um traço importante do escritor que revela um certo egoísmo, mas que mais tarde é explicado o motivo dele ter se blindado de todos, inclusive do pai (justificando também a razão de apenas ele o ver).

Alexandre e Vincent (Jérémy Lopez). Créditos: Nathalie Mazéas / Cine Nomine / Same Player

Com dívidas acumuladas e sofrendo com a perda do marido, Marguerite quer vender a casa, onde vive com Vincent e sua esposa, Sandrine (Marie-Julie Baup), que parece ter problemas psicológicos, sendo medicada e tendo diversas crises. E, apesar do clima mais dramático apresentado até aqui, é Sandrine que renderá alguns dos momentos mais engraçados do filme, seja com Alexandre ou com Napoléon (Papilonio Tokotuu), jogador de rugby das Ilhas Fiji, agenciado por Vincent, que passa a morar com a família.

Divertido momento da partida de rugby na praia. Créditos: Nathalie Mazéas / Cine Nomine / 
Same Player

O alívio cômico é necessário para que se dê passagem à desconstrução de Alexandre na busca de entender o porquê de apenas ele possuir o dom de ver o pai. Lembra da carreira de fotógrafo cobrindo eventos internacionais? Descobrimos que nas longas coberturas de Grand Prix e Olimpíadas, o acompanhamento do crescimento do filho mais velho ficou em segundo plano, com um abandono parental traumático para Alexandre que surta no quintal da casa numa feia discussão com o espírito do pai.
 
Após sofrerem com a perda do patriarca, os membros da família conseguem construir uma boa relação. Créditos: Nathalie  Mazéas / Cine Nomine / Same Player

Mas, passado o drama, vemos também momentos gostosinhos como quando carregam Marguerite em cima de uma cama até a praia, e os demais membros da família, junto à Roxane e Napoléon, jogam rugby na areia. Aliás, essa virada para a harmonia familiar são algumas das melhores partes do longa, que ainda é acrescida a uma madura, franca e emocionante conversa entre Jacques e Alexandre.

Com momentos cômicos e dramáticos, Espírito de Família desperta muita emoção. Créditos: Nathalie  Mazéas / Cine Nomine / Same Player

O filme termina de um jeito tão bom e harmônico que todos os entraves do começo e do meio entre os familiares são solucionados e vemos lindas cenas como por exemplo demonstrações de afeto entre Alexandre e Vincent. Para além da trilha sonora que conta com a linda Father And Son, de Cat Stevens, super recomendo esse filme se você gosta ou precisa se conectar familiarmente. Se você também curte um elenco enxuto e exclusivo, saiba que os incríveis veteranos do longa possuem diversas indicações e prêmios do Césars, Oscar francês. Talvez a única ressalva como um todo seja para a exploração exacerbada das cenas dramáticas ou cômicas, podendo causar dúvida ao telespectador quanto ao gênero em si se apenas comédia ou drama (mesmo que seja comédia dramática).

Distribuído pela A2 Filmes, o longa francês chega nas plataformas digitais para aluguel e compra a partir de 17 de setembro. Veja o trailer abaixo:

Nota ⭐⭐⭐⭐ 4/5

Postagem Anterior Próxima Postagem