Temporada digital de Caso Cabaré Privê é prorrogada


Com concepção e direção de Pedro Granato, Caso Cabaré Privê estende temporada on-line até 20 de setembro. A peça pode ser conferida aos sábados (às 21h) e domingos (às 20h) na plataforma digital da Sympla.

O espetáculo musical é feito por jovens atores do Núcleo Pequeno Ato, em resposta direta às questões que os afligem no Brasil de 2020, uma característica marcante do processo de pesquisa e criação do grupo junto ao diretor.

Na trama, o filho do presidente é encontrado morto em um cabaré privativo e o público é convidado a investigar as pistas antes do anúncio oficial para imprensa. Nenhuma performer do estabelecimento pode sair e começam as interrogações conduzidas por um delegado. O público é direcionado para cabines privê e pode interrogar as personagens. Os atores fazem a encenação em tempo real, executando as cenas e interagindo com a plateia, que assiste tudo direto de suas casas por meio de salas virtuais.

Dessa forma se estabelece um jogo imersivo a partir dos registros do celular do filho do presidente, que funciona como um flashback, para ajudar na elucidação do que aconteceu naquela noite. Essa é a única cena gravada previamente onde o grupo respeitou todos os protocolos de segurança e distanciamento físico.

A montagem estava prevista para estrear no primeiro semestre em formato presencial. “Assim que começou a pandemia migramos os ensaios para plataforma on-line. Começamos a experimentar diferentes formas de relação e interação pensando uma estética voltada para esses tempos. Assim surgiu a ideia de transformar o cenário, que seria em show de cabaré, em cabines reservadas onde cada personagem interage com o público, sem perder a costura musical”, conta Pedro Granato.

O formato já faz parte da pesquisa do diretor, que estreou em 2019 o espetáculo Babylon: Beyond Borders, encenado simultaneamente em quatro países com transmissão ao vivo pela internet. “Como eu já tinha feito uma peça de forma on-line e em países diferentes, me deu uma certa tranquilidade por saber que era possível realizar. O maior desafio de produzir, no único formato possível de se fazer nesse momento, foi buscar novas maneiras para resolver os problemas. Existe a novidade tecnológica que eu já estava experimentando e que a pandemia universalizou permitindo assim uma nova conexão com o público”, explica.

Para a adaptação, os atores usaram suas próprias casas como cenário para comentar a trama de um cabaré esvaziado (sem a presença do público). Como possivelmente houve um crime, cada personagem está fechada em sua cabine. Os atores pensaram as ambientações utilizando elementos cênicos e a iluminação que tinham disponíveis para construir o universo de cada interpretação. Mesclando recursos contemporâneos como números de lip sync, que se popularizaram com as drag queens, e a estética de coreografia de videoclipes e redes sociais, a encenação bebe na fonte da realidade e na riquíssima herança musical brasileira.

Inspirado em táticas de ação direta que tem tomado protestos contra o autoritarismo no mundo todo, a ideia do projeto é retrabalhar a visão Brechtiana de musical que se propõe a questionar o funcionamento da sociedade com os elementos de hoje. O objetivo é construir um musical vibrante que dialogue com a nova geração e se posicione de maneira clara contra a onda reacionária que se espalha pelo mundo. “O teatro preserva a comunhão do tempo-espaço, só que agora de forma on-line. O jogo continua com a efemeridade que só fazer teatral pode proporcionar, pois para cada plateia acontece um espetáculo diferente”, conclui Granato.

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