Review | The Last of Us Part II

Escrito por: Kevin Santana

“Será uma história sobre ódio” essa foi a frase que os fãs do game mais ouviram da Naughty Dog, desde o anúncio do game em 2016. O diretor criativo Neil Druckmann avisou muitas vezes que o game seria pesado e muito visceral. Mas, mesmo com todos esses alertas vindo de quatro anos atrás, confesso que não estava preparado para o que estaria por vir. Na verdade, acredito que ninguém estava. 

A história é sobre perda, redenção, traumas, culpa e a ligação inseparável entre o amor e o ódio. É uma experiência ao meu ponto de vista completamente desafiadora e emocionante não só pelos olhos da protagonista, mas também para o jogador, onde somos colocados em situações que não são nada agradáveis de se jogar, principalmente a aqueles jogadores que são mais apegados ao primeiro game.

The Last of Us II não é uma experiência nada fácil. É uma jornada inteiramente autorreflexiva, que muitas vezes deixa de ser divertida e nos faz questionar não só as decisões da protagonista, mas também de nós mesmos, sendo cumplices de tudo aquilo que está acontecendo.

O game explora muito bem o fato de controlarmos as decisões feitas no jogo, o que acaba sendo diferente de só assistir. Fazendo que seja extremamente impactante e profundo para o jogador. 

Curiosamente o game é dividido em duas partes que se diferem em dois pontos de vistas muito importantes para o desenrolar da história, o que acaba interferindo e impactando e muito a gameplay. Mas calma que eu chego lá.

A expansão do universo em The Lasts of Us

O jogo se passa cinco anos depois do primeiro título, com Ellie e Joel, morando na comunidade de Jackson no Wyoming. A pequena comunidade tem uma rotina repetitiva e relativamente pacífica. Porém como era de se esperar, seria difícil que essa realidade perdurasse em um mundo pós apocalíptico, e um acontecimento trágico acaba mudando a vida de todos na comunidade, assim, colocando Ellie em uma jornada em busca de vingança.
O jogo trabalha no seu próprio tempo para inserir o jogador naquele universo e apresentar o quanto foi expandido, usando flashbacks para reconstruir o laço entre personagens e jogador. Mas não quer dizer que temos um início lento, muito pelo contrário: muitos acontecimentos agitados chegam sem aviso.

Desde as primeiras imagens, o game prometia ser visualmente impressionante, e realmente é! Mas não só são os gráficos, que estão grandiosos e apresentam o melhor da atual geração, mas também tendo em vista os tamanhos dos cenários.

A ambientação é completamente ampla e cheia de caminhos diferentes. Existem áreas tão extensas que se comparam a um pequeno “mundo aberto”. Sendo esses locais cheios de suprimentos, coletáveis e itens opcionais, que desencadeiam diálogos que podem fazer falta na narrativa do game. Minha dica é: explore bem os cenários porque nunca vai ser perca de tempo e sempre terá uma surpresa.

 A sensação de expansão do game se dá também com a interação do cenário, como quebrar o vidro de uma máquina velha de lanches, de um carro, tudo isso ajuda na sensação de amplitude do game. 

O fato do game ser realista se torna favorecido quando a qualidade das animações e a transição entre gameplay e cutscene, se torna quase nula, praticamente imperceptível. O detalhamento dos NPCs e da própria Ellie está muito elevado, e todos os personagens são muito expressivos.

Ela enxuga o suor, as lágrimas com a manga da camisa, coça o nariz. Em ambientações mais frias, sai fumaça da sua boca, pegadas marcam o chão, em determinados momentos do game você consegue ouvir a respiração da Ellie. Realmente o nível de detalhamento está fantástico!


Jogabilidade

Em questões de jogabilidade é uma evolução do primeiro game, priorizando o que deu certo, como os comandos básicos, porém adicionando novidades para mostrar as diferenças que entre jogar com o Joel e a Ellie.

A Ellie é menor que a maioria de seus inimigos, o que é evidenciado pela posição da câmera nas horas de combate. Uma jogada tanto quanto interessante dos desenvolvedores para mostrar a desvantagem da Ellie. Algumas novas funções foram adicionadas na jogabilidade que é a esquiva, a personagem consegue se esquivar para contra-atacar, se rastejar, se espremer em frestas e se esconder entre gramas mais altas.

Em relação as armas e equipamentos, a personagem usa um canivete que não quebra (amém!), pode construir silenciadores (graças a Deus!)  para a pistola e usar flechas explosivas. 

O que mais me impressionou no gameplay de combate é que a personagem realmente sente o impacto de ser machucada por um inimigo. Ela fica nervosa, tropeça, sua respiração fica mais ofegante, sangue jorra na tela, prejudicando a visão do jogador, e atirar já não é mais tão fácil, afetando a precisão e a cadência dos disparos da arma.

A inteligência do NPC que te acompanha foi melhorada. Teve um ajuste significativo e se diferenciando muito do primeiro game. Aqui, ele age de acordo com os movimentos que o jogador optar, se for uma gameplay mais stealth o NPC será mais furtivo, se for mais ofensivo ele será mais direto. 

Os inimigos estão extremamente humanizados, o que faz com que você se sinta com um peso na consciência ao matá-los. Eles gritam de dor, você ouve os barulhos deles engasgando com o próprio sangue, e choram por seus companheiros mortos inclusive os doguinhos. Apesar de ser uma ideia simples faz toda a diferença para abalar o jogador.
Os infectados estão os mesmos do primeiro jogo, eu diria até que um pouco mais fáceis devido ao canivete da Ellie que nunca se quebra. Porém há duas novas “classes” de infectados, são elas os Espreitadores, como o próprio nome já diz, eles se escondem e esperam o melhor momento para atacar e na minha opinião são os mais chatos de TODA a franquia, pois eles não são detectáveis. E os Trôpegos, uma variação mais fraca dos Baiacus, que ataca com bombas de esporos. 

O ápice de Cordyceps é o infectado mais poderoso do universo de TLOU que, para não dar spoiler, é melhor que o próprio jogador veja e se surpreenda com ele.


As facções em The Last of US 

Dentre os inimigos humanos, temos o grupo WLF ou Washington Pela Liberdade, uma milícia paramilitar que tenta ocupar as zonas de quarentena ocupadas por militares. Os integrantes são apelidados de “Lobos” e usam cachorros farejadores para procurar intrusos, o que força o jogador que tenta se esconder a mudar seu posicionamento o tempo inteiro. Abater os doguinhos não é nem um pouco agradável, já que eles gritam de dor e é de partir o coração, sinceramente, abusar do stealth é a melhor forma para não se sentir um monstro.
Há também os Serafitas, conhecidos como “Cicatrizes”, que são mais furtivos, porém, muito mais agressivos. Eles usam flechas para atacar e usam assobios para se localizarem, e checar se seus aliados não foram abatidos. E, não há nada mais aterrorizante do que estar escondido em uma área e ouvir assobios por todo o lado, e a única coisa que consegue pensar é que está cercado por ocultistas malucos que querem te matar. Isso não é nem um pouco reconfortante.

É sempre bom ter uma estratégia para enfrentar mais de um tipo de inimigo de uma vez, e, se você for muito bom, usar os infectados ao seu favor.


Trilha sonora 

A trilha sonora, é composta mais uma vez pelo argentino Gustavo Santaolalla, ganhador de dois Oscars e vale ressaltar a trilha sonora precisa que é um dos elementos mais importantes e emocionantes durante o game. Porém ela não é tão significativa e memorável quanto o primeiro jogo. Os destaques acabam sendo para momentos de tensão que estabelecem o clima de combate e os momentos mais emotivos do game.
  • Dublagem
A dublagem em português do Brasil é destaque, que evoluiu significativamente em relação ao primeiro game, lançado em 2013. E, também vale destacar a performance espetacular de Luiza Caspary, a intérprete brasileira da Ellie
  • Horas de gameplay
O jogo se estende entre 25 a 30 horas, dependendo de quanto tempo você leva para explorar o cenário. Contando também, com vários momentos de tensão, surpresas, flashbacks e momentos emocionantes.


Considerações finais

The Last of Us Part II é uma experiência inovadora no mundo dos games, sendo ela única e intensa, fugindo de tudo aquilo já apresentado na indústria dos games.  É uma história pesada e ocorrerá rejeições de outros jogadores, porém, colocaram muitos jogadores (como eu) para pensarem não só nos temas abordados, mas também nas sensações que um game é capaz de provocar. E como o jogo consegue usar a interatividade para gerar sentimentos diversos.

O jogo se torna um soco no estômago que conta com momentos de calmaria e reflexão, gerando acontecimentos mais doces e mais amargos. De fato, não é uma experiência fácil de digerir, principalmente em uma mídia que envolve o fator “diversão”, até porque é o grande foco. 

No fim, Tha Last of Us Part II arrisca e entrega uma das experiências mais intensas no mundo dos vide-games, aproveitando toda o potência d Playstation 4, com uma narrativa que trata principalmente sobre a relação entre amor e ódio. Definitivamente é um jogo onde você não estará preparado para o que te espera.
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