Organização norte-americana vai distribuir comida para necessitados no Brasil


A Million Dollar Vegan, organização internacional conhecida por desafiar o papa e o presidente dos Estados Unidos a tornarem-se veganos por cerca de um mês em troca de uma doação de um milhão de dólares para instituições de caridade, lança nesta semana uma nova campanha que deve distribuir mais de 117 mil refeições veganas, em todo o mundo. A ação teve início em vários países no último sábado (02) e os trabalhos no Brasil começam nesta terça-feira (05). O objetivo é contribuir para o bem-estar das pessoas e mostrar como prevenir futuras pandemias: adotar uma dieta vegana.

Em parceria com restaurantes veganos locais, fornecedores, instituições de caridade e voluntários, a organização vai entregar, pelo menos: 700 kits de alimentos para veteranos de guerra em Los Angeles (Estados Unidos); 3,8 mil refeições para famílias vulneráveis ​​no leste de Londres (Inglaterra); mil refeições para um hospital de Turim (Itália), com pacientes em tratamento da Covid-19; 1,2 mil refeições para cuidadores e pessoas sem-teto em Paris (França); três mil refeições para comunidades de baixa renda em São Paulo (Brasil); 700 refeições para trabalhadores de serviços essenciais em Madri (Espanha); 7 mil kits de ajuda a bairros pobres de Buenos Aires (Argentina); 6,4 mil refeições para os mais necessitados em seis cidades mexicanas; e quatro semanas de refeições para centenas de famílias que moram em áreas pobres e para crianças de rua em Nova Déli e Pune (Índia). Além disso, a organização também deve levar alimentação por quatro meses para 250 crianças na Etiópia. Os cálculos ainda estão sendo finalizados, mas esse é o número mínimo de refeições que a entidade espera conseguir entregar em cada região. No total, mais de 117,5 mil refeições serão distribuídas para pessoas afetadas pela crise da COVID-19 no mundo.

No Brasil, o trabalho será feito em conjunto com o Instituto Luisa Mell e a Green Kitchen, que irá preparar as refeições a preço de custo para atender diferentes comunidades na cidade de São Paulo. Serão pelo menos 3.000 refeições distribuídas com o apoio de quatro organizações: Solidariedade Vegan, a Base Colaborativa, Projeto Arrastão e Projeto Novos Sonhos. Em seu Instagram, Luisa Mell declarou que fica emocionada de poder fazer parte dessa ação, porque fica muito sensibilizada ao ver as pessoas sofrendo com fome. A apresentadora e ativista, conhecida pela dedicação à causa animal, ainda concluiu “para a gente tirar as pandemias da nossa vida, da nossa história, a gente tem que tirá-las do cardápio”.


Parcerias no mundo

Além das parcerias no Brasil, a campanha, que deve atravessar o mês de maio, conta com o apoio de diversos parceiros, em todos os países que receberão as ações. No Reino Unido, a East London charity deverá apoiar a distribuição das refeições para famílias em situação de vulnerabilidade. Ainda na Europa, a Itália conta com a Soul Kitchen no preparo e distribuição dos pratos para hospitais de Turim, a França terá apoio do restaurante Les Bols D’Antoine para atender a população que vive nas ruas e, na Espanha, o trabalho em conjunto com vários restaurantes veganos viabilizará a distribuição das refeições para os trabalhadores da área da saúde.

Mas as ações não param por aí. Os militares sem residência na região de Los Angeles (EUA) receberão os pacotes com comida do restaurante Vinh Loi. A Índia, por sua vez, receberá ajuda da ONG Chetnango.org, atendendo a população que reside em comunidades de Nova Déli e Pune. Na Argentina, o pacote de ajuda também conta com refeições, material de higiene para mãos e máscaras. O México também fará parcerias para fornecer comida na Cidade do México, Guadalajara, Monterrey, Los Cabos, Playa del Carmen, and Saltillo.

“Sabemos que partes do continente africano provavelmente serão muito afetadas pela Covid-19, por isso buscamos uma parceria com o Fundo Internacional para a África (IFA, na sigla em inglês) para alimentar, com comida vegana, 250 crianças em idade escolar em Adis Abeba (Etiópia), por quatro meses”, revela Naomi Hallum, diretora geral da Million Dollar Vegan.

Avisos do passado

Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), cerca de 75% das doenças infecciosas emergentes são de origem animal.[1] Nossas ações mostram que estamos falhando em aprender lições do passado, pois nossa longa história de exploração de animais em busca de carne, leite, ovos e peles significa também uma longa história de doenças graves e mortes generalizadas de pessoas. Muitos especialistas acreditam que doenças como a tuberculose, a coqueluche, a febre tifoide, a hanseníase e o vírus do resfriado tenham surgido a partir da domesticação de animais para consumo humano.[2]

A pandemia de gripe de 1918, que matou de 50 a 100 milhões de pessoas, veio de aves.[3] Mais recentemente, em 2003, o vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) – que se acredita ter como origem outro mercado de animais vivos[4] - se espalhou para mais de 8 mil pessoas em todo o mundo e custou à economia mundial cerca de 40 bilhões de dólares.[5] Depois, em 2009, veio a “gripe suína” (H1N1) - com origem possivelmente nos porcos -, que infectou cerca de 60,8 milhões de pessoas.[6] Disso se seguiu, em 2012, a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers), decorrência de outro coronavírus mortal, surgida diretamente da exploração industrial de camelos no Oriente Médio.[7] Então, em 2013, a “gripe aviária” (H7N9), que emergiu de aves domésticas, afetou mais de 1,5 mil pessoas,matando cerca de 40% delas.[8]

Covid-19

“A Covid-19 é apenas a doença mais recente a ultrapassar a barreira das espécies. E a menos que mudemos nosso padrão alimentar e de consumo, não há dúvida de que outras zoonoses mortais irão infestar o mundo. Não há dúvida alguma quanto a isso”, lembra Naomi.

O resultado ao destruir hábitats naturais para exploração madeireira ou pastagem e capturar ou matar animais silvestres em busca de alimentos, peles ou troféus, pode ser devastador. Assim como as doenças transmitidas pelos colonizadores exterminaram as populações humanas nativas, as doenças desses animais se espalham e matam pessoas.

Campanha global contra pandemias

Para conscientizar a população, a organização lançou uma campanha global chamada ‘Tire as pandemias do cardápio’. O objetivo é alertar sobre os riscos provocados pelo consumo de produtos de origem animal. Cerca de 75% das doenças infecciosas surgidas no mundo vieram de animais, segundo órgãos especializados. A ação é uma resposta ao impacto mundial devastador da pandemia de coronavírus, contando com o apoio e orientação de importantes especialistas na área da saúde, além de ativistas pelos direitos dos animais.

Matar animais está nos matando também

Todo um aparato industrial e sanitário teve de ser criado apenas para proteger a humanidade dos produtos de origem animal: inspetores de higiene; órgãos consultivos de segurança alimentar, que indicam as formas menos arriscadas de manusear, cozinhar e consumir esses produtos; fabricantes de fungicidas, virucidas, antibióticos e substâncias antibacterianas; e sistemas de saúde, que fazem o possível para eliminar os danos causados ​​pela ingestão de animais e suas secreções.

O consumo de produtos de origem animal está ligado a um risco maior de doenças cardíacas, derrame, pressão alta, obesidade, diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer (todas as carnes processadas – incluindo bacon, presunto, embutidos, linguiça e salsicha – são reconhecidas como cancerígenas pela Organização Mundial de Saúde).[9]

Cerca de 92,1 milhões de adultos estadunidenses vivem com alguma forma de doença cardiovascular ou com os efeitos secundários de um derrame. Estima-se que os custos diretos e indiretos totalizem mais de 330 bilhões de dólares.[10] Cerca de 23,4 milhões de adultos estadunidenses foram diagnosticados com diabetes tipo 2 – que está relacionada ao estilo de vida –, o que representa 95% de todos os casos. O custo total para a economia dessa doença é de cerca de 327 bilhões de dólares.[11] Quanto à obesidade, o impacto na economia dos Estados Unidos já ultrapassou 1,7 trilhão de dólares.[12]

Para o professor dr. T. Colin Campbell, um dos pesquisadores que conduziu The China Study, uma das mais abrangentes pesquisas já realizadas sobre a relação entre saúde e alimentação, essa conexão é evidente: “uma dieta baseada em alimentos vegetais integrais pode impedir, talvez até reverter, doenças degenerativas crônicas que tornam os idosos mais suscetíveis à Covid-19 ao mesmo tempo em que aumenta a imunidade para combatê-la”.

A médica pediatra e nutróloga dra. Fernanda de Luca, presidente da Associação Brasileira de Médicos Vegetarianos (ABMV), também afirma que “uma alimentação baseada em legumes, verduras e frutas contém todos os nutrientes necessários para um ótimo funcionamento do nosso sistema imunológico, e um sistema imunológico competente é capaz de combater qualquer infecção, inclusive a infecção pelo coronavírus”.

Esperança

A expectativa da organização é que os cem mil dólares em alimentos e produtos de necessidade básica que estão sendo doados possam aliviar parte do sofrimento causado pela Covid-19. “Tirar os animais do cardápio e substituí-los por vegetais pode curar nosso planeta e nosso corpo; pode reconstruir uma economia forte e resistente; e pode ajudar os mais vulneráveis ​​do mundo. Nós podemos fazer isso. O futuro está em nossas mãos e em nossos pratos. Precisamos apenas fazer essa mudança”, conclui Naomi.
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