Espetáculo Floresta, de de Alexandre Dal Farra, estreia dia 16 de janeiro no Sesc Ipiranga


Expoente da dramaturgia paulistana atual, o autor e diretor Alexandre Dal Farra estreia seu novo espetáculo, Floresta, no dia 16 de janeiro, no Sesc Ipiranga. A peça fica em cartaz até 9 de fevereiro, com sessões de quinta a sábado, às 21h, e aos domingos, às 18h. Gilda Nomacce, Nilcéia Vicente, Sofia Botelho, André Capuano e Clayton Mariano, estão no elenco.

Na trama, um pai, uma mãe e uma filha encontram-se refugiados em uma casa isolada no meio da mata, por razão não muito clara a princípio. A família recebe dois visitantes inesperados, mas não sabe lidar com essa presença estranha. À medida que as relações se estabelecem, a tensão aumenta e o acerto de contas mostra-se algo mais complexo do que parecia. Enquanto eles são obrigados a rever as próprias convicções, o mundo lá fora parece entrar em colapso.

A dramaturgia surgiu em torno do seguinte questionamento: como lidar com o inimigo? “Comecei a fazer essa pergunta para algumas pessoas e fiz entrevistas com lideranças indígenas enquanto escrevia o texto, muito embora o foco nunca tenha sido a questão indígena enquanto tema, mas sim, a possibilidade de pensar um pouco sobre maneiras diversas de lidar com essa pergunta, talvez aparentemente ‘nova’ para alguns de nós”, revela o dramaturgo e diretor Alexandre Dal Farra.

Outra referência importante para a encenação é o trabalho do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, que estuda as sociedades ameríndias e propõe que elas não se fundam na conservação de suas estruturas (como a sociedade ocidental), mas na busca por capturar relações exteriores (mutáveis e inconstantes), em troca constante com o que vem de fora, mesmo que esse interesse seja fruto de uma vontade de vingança ou guerra. Na peça, que não trata diretamente da questão indígena, tanto a família como os invasores – dois lados que se projetam como inimigos – procuram de modos diversos determinar o próprio papel nessa relação a partir da maneira como agem diante do outro. A partir de então, surge o questionamento: “como lidar com uma relação que, embora esteja calcada na diferença e no ódio, ainda assim, é uma relação?”

A ideia de floresta que estrutura o trabalho é a de um lugar desconhecido, que pode assustar e gerar curiosidade e que, ao mesmo tempo que se desenvolve por meio de disputas constantes, também envolve e abraça. “A peça se funda em uma espécie de susto: de repente essas pessoas se veem obrigadas a lidar com uma situação de embate que não planejavam enfrentar, e da qual estavam possivelmente fugindo. Ou seja, o trabalho no fundo também fala sobre o medo, em suas diversas manifestações. E sobre a inércia que esse medo provoca. De certa forma as personagens são todas emanações diversas do medo”, acrescenta o autor.

A cenografia recria essa sensação de confinamento da floresta, com objetos comumente encontrados em um lar, mas ligeiramente estranhos, e fora de lugar. A luz, com as varas do teatro todas baixas, enfatiza esse espaço pressionado. Já a música sustenta o aspecto contraditório que a violência da peça engendra: ao mesmo tempo que é explosiva, envolve - proporcionando algo da sensação de imersão de uma floresta. 
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