Um Passeio no Bosque, do norte-americano Lee Blessing, estreia no Espaço Elevador dia 20 de setembro


Na atual época de intolerância e violência vivida no Brasil, o espetáculo Um Passeio no Bosque, do autor norte-americano Lee Blessing, propõe a ideia de “desarmamento” entre os homens. O texto ganha uma nova montagem dirigida por Marcelo Lazzaratto que estreia no dia 20 de setembro, na sede da Cia. Elevador de Teatro Panorâmico, e segue em cartaz até 22 de dezembro. O elenco é composto pelos atores Gustavo Merighi e Beto Bellini, que participou de uma montagem da mesma peça no começo dos anos 2000. Na época Beto fazia o papel do personagem mais jovem e Emílio Di Biasi (vencedor do Prêmio Shell naquele ano) fazia o papel do mais velho. Nesta montagem Bellini tem a oportunidade de fazer o papel com o qual contracenava em 2000. 

Escrita em 1988, a peça revela o encontro entre dois diplomatas representantes de potências adversas em um bosque na Suíça, uma terra de neutralidade e perfeição cívica. Um deles é um russo com larga experiência diplomática e cético em relação ao próprio trabalho; o outro, um jovem americano idealista, com firme crença no poder da diplomacia e em sua habilidade pessoal.

O mais velho dos diplomatas está mais propenso a uma relação sem formalidades e usa os mais variados recursos para vencer os obstáculos em seu caminho. Já o jovem e menos experiente prefere o argumento direto e objetivo e um conhecimento menos íntimo e mais protocolar com o companheiro. As grandes questões da política internacional – a guerra ou a paz – são tratadas permanentemente pelos dois diplomatas, frustrando a ambos, pois o poder prefere utilizar-se delas em seu próprio benefício e segundo as conveniências do momento.

“Gosto do modo como Blessing escreve que te deixa preso às palavras. É um texto da década de 1980, que discute a questão da Guerra Fria, do desarmamento nuclear. É impressionante como essa circunstância básica se mostra tão atual. É claro que não temos mais a Guerra Fria, mas, devido à polarização tão crônica que estamos vivendo sem o menor esforço a peça dialoga com o contemporâneo”, comenta o diretor Marcelo Lazzaratto.

A encenação é pautada no jogo entre os dois intérpretes. “É um jogo de atores. "Trabalhamos para fazer com que eles elaborem o texto lindamente para que consigam dizê-lo com bastante sutileza e clareza e com os contornos específicos de cada personagem. Um deles é um  russo mais velho, que está muito tempo nessa lida, e o outro é um jovem idealista americano. Um já tem o entendimento de que as coisas não são exatamente possíveis de ser transformadas, e que a paz é uma constante tentativa e não um êxito a ser alcançado; enquanto o jovem ainda acredita que isso é possível”, comenta o encenador Marcelo Lazzaratto.

O diretor aposta na simplicidade cênica para trazer ao público a complexidade da relação entre os diplomatas. “É uma peça muito simples no sentido da visualidade, mas essa simplicidade está ali para conter ou expor a complexidade do jogo, das relações e do quanto essa relação binária coloca quase em xeque mate a humanidade. Então, mais do que tentar reproduzir um bosque da Suíça, vou me apropriar de todo o espaço cênico para dar a poética da coisa. A dinâmica entre os atores vai se dando dentro da concretude daquela arquitetura. Isso oferece um dado de realidade que fortalece o jogo dos atores. E o imaginário fica por conta das palavras que nos remetem à Suíça, ao bosque, à Rússia, aos Estados Unidos e ao Brasil”, acrescenta.
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