QUARTO 19, espetáculo solo de Amanda Lyra construído a partir do conto No Quarto Dezenove (To Room Nineteen), da escritora britânica Doris Lessing (1919-2013), prêmio Nobel de Literatura em 2007, reestreia dia 06 de setembro no Teatro Eva Herz. A direção é de Leonardo Moreira, dramaturgo e diretor da Companhia Hiato, de São Paulo.
A peça estreou em 2017 no Sesc Pinheiros, em São Paulo, e já realizou diversas temporadas bem-sucedidas na cidade. Em julho de 2018, a peça estreou no Rio de Janeiro, em uma temporada com ingressos esgotados no teatro Poeira. Quarto 19 teve uma ótima repercussão de público e crítica em todas as praças que se apresentou e foi indicada ao Prêmio Shell 2018 de Melhor Atriz e vencedora do Prêmio Questão de Crítica categoria Melhor Atriz.
O conto To Room, publicado pela primeira vez em 1963, conta a história de uma mulher de classe média casada e com quatro filhos que se vê̂ despersonalizada pelo casamento burguês, pela maternidade e pela fragmentação de sua identidade feminina.
As questões abordadas pelo texto e pela encenação de Quarto 19 dizem respeito principalmente às mulheres, mas não só́ a elas. Nesse conto, Lessing aborda com simplicidade e força alguns de seus temas mais persistentes, como o cabo de força entre o desejo humano e os imperativos do amor, da traição e da ideologia, as tensões entre o doméstico e a liberdade, a responsabilidade e a independência. A construção da identidade, o trabalho para estabelecê-la, defini-la e refiná-lá, talvez seja o fio que liga toda a obra de Lessing.
A ATUALIDADE DO TEXTO
A atriz Amanda Lyra, também idealizadora do projeto e tradutora do texto, conta: “To Room 19 foi publicado pela primeira vez em 1963. Esta peça estreou em 2017. Tanto tempo no fim das contas parece tão pouco. É doloroso perceber a universalidade e atemporalidade desse texto. Perceber que estamos nos debatendo com mesmas questões tantos anos depois, com o movimento feminista já em sua quarta vaga.
Mas Quarto 19 vai além de um retrato da condição da mulher. O conto de Lessing questiona o ideal de felicidade da família burguesa, o modelo social racional e inteligente que soterra nossa sensibilidade, nossa selvageria. É uma grande tarefa lutar pela sobrevivência da própria identidade numa sociedade com modelos tão sufocantes. O quarto 19, aqui, é mais do que um espaço físico. Ele é uma metáfora de libertação. Um espaço/estado onde qualquer pessoa pode ser o que quiser, a despeito do que se exige dela na sociedade.”
A personagem do conto está consciente de que é prisioneira de alguma coisa maior e, em seu discernimento embotado, passa a acreditar que está doente. Mas o mal que a aflige está também – e talvez principalmente – no âmago da sociedade, e não só em algum lugar escondido das anomalias individuais. A personagem vive assim a luta silenciosa de muitas outras mulheres. Uma luta gigante, onde o desejo de autenticidade se vê̂ barrado por princípios e modelos culturais.
A MONTAGEM
O cenário e a luz de Marisa Bentivegna criam um espaço limpo e claro, que traz somente uma parede ao fundo, um carpete e uma poltrona. Na cena predominam os tons de verde. O figurino, realista, é de uma mulher comum, e suas cores dialogam com o tom geral da montagem. É através do trabalho da atriz que todos os espaços são desenhados – a casa da família, o jardim, o quarto 19.
Sobre Leonardo Moreira - diretor
Dramaturgo e diretor da Companhia Hiato, de São Paulo, é mestre em Dramaturgia pela Universidade de São Paulo. Estreou como autor e diretor com a peça Cachorro Morto (2008) e com o texto seguinte, Escuro, recebeu o Prêmio Shell 2010 de Melhor Autor, Prêmio CPT – Melhor Autor e Melhor Espetáculo. Com O Jardim (2011) recebeu 19 indicações aos principais prêmios do país e venceu o Prêmio Shell 2012 como Melhor Autor, além do Prêmio APCA 2012 de Melhor Direção, Prêmio Governador do Estado de São Paulo – Melhor Espetáculo, e Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro – Melhor Autor e Melhor Espetáculo. Depois também escreve e dirige com a Cia. Hiato os espetáculos Ficção, indicado em três categorias (direção, ator e atriz) no prêmio Shell 2014, e 2 Ficções, realizado em coprodução com o Kunsten Festival dês Arts (Bruxelas, onde fez sua estreia mundial). Também são de sua autoria Bagagem (finalista do Prêmio Luso Brasileiro de Dramaturgia), Prometheus – a tragédia do fogo (indicado a três Prêmios Shell 2012, indicado a Melhor Autor Prêmio CPT 2012,) e Menor que o Mundo, que também dirigiu. Dirigiu o espetáculo "O Silêncio Depois da Chuva" (indicado a 2 Prêmios Shell 2012) e criou a instalação Del lugar en el que estoy, para a exposição Espacios Revelados, em Buenos Aires (2014). Em 2016, foi convidado a dirigir e escrever o espetáculo Wiosna, no Teatr Studio, na Varsóvia (Polônia) e criou o espetáculo Amadores, também com a Companhia Hiato, tendo sido indicado ao Prêmio APCA 2016 de Melhor Direção.
Além disso, é roteirista para cinema (De Onde Eu Te Vejo, A Noite do Halley) e TV (Três Teresas, GNT; Vizinhos, GNT; Jogo da Memória, Globo). Seus espetáculos já foram apresentados nos Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Grécia, Polônia, Bélgica, Romênia, Chile, Colômbia, Argentina e Áustria.
Sobre Amanda Lyra - atriz
Formada em atuação pela Escola de Arte Dramática da USP. Idealizou, produziu e atuou nos espetáculos: Tragédia: uma tragédia, de Will Eno, com direção de Carolina Mendonça, e que estreou no Sesc Pompeia em 2014; Uma História Radicalmente Condensada da Vida Pós-Industrial, direção de Carolina Mendonça e com texto criado a partir do livro Breves Entrevistas com Homens Hediondos, de David Foster Wallace, que estreou na Mostra Sesc de Artes 2012 e circulou por quatro capitais com o Prêmio Funarte Myriam Muniz. Atuou nos espetáculos A Pior Banda do Mundo, da Cia. dos Outros e Mateus, 10, do grupo Tablado de Arruar (vencedor do Prêmio Shell 2012 de Melhor Autor).
Fez assistência de direção e atuou para Leonardo Moreira no espetáculo O Jardim, da Cia Hiato, vencedor de Melhor Autor no prêmio Shell e Melhor Direção no Prêmio APCA. Também atuou nos espetáculos Êxtase, texto de Mike Leigh e direção de Mauro Baptista Vedia, que estreou no CCBB-SP, Há um Crocodilo Dentro de Mim, direção de Silvana Garcia, que estreou no Sesc Consolação. Codirigiu, junto com Carolina Bianchi, o espetáculo Solos Impossíveis, da Cia. do Outros.
Na TV, atuou na novela Malhação - Vidas Brasileiras, da TV Globo, e na séries Assédio (Globo em parceria com a O2 - inédita); Samantha! (Netflix - estreia em julho 2018) e Agora Sim (Canal Sony). No cinema atuou no filme TOC - Transtornada Obsessiva Compulsiva, com direção de Paulo Caruso e Teo Poppovic e A Performance, dirigido por Mauro Baptista Vedia e Luis Dantas.
SERVIÇO - Quarto 19, a partir do conto de Doris Lessing
Teatro Eva Herz – Av. Paulista, 2073 - Cerqueira César, São Paulo - SP, 01311-940
Temporada: de 06 de setembro a 18 de outubro
sextas-feiras, às 21h
Ingressos: R$50 (inteira) e R$25 (meia-entrada).
Duração: 75 minutos
Classificação: 16 anos
Gênero: drama
Telefone: (11) 3170-4059
Capacidade do teatro: 168 lugares