Muito paulistano nem imagina os atrativos da natureza que há dentro da cidade. Em Parelheiros, no extremo sul de Sampa, rola nadar em rios limpos, como o Capivari e o Monos, tomar banho de cachoeiras (a da Usina tem queda de 70m) e fazer trilhas na mata selvagem. Considerado Patrimônio Ambiental, o distrito tem cratera formada por um meteorito, aldeias guaranis e mirante com vista pro mar. Em julho, há mais um motivo para dar um rolê na região: a III Mostra de Artes e Teatro de Rua de Parelheiros realizada entre os dias 17 e 20 de julho (de quarta a sábado).
A programação gratuita inclui 17 shows, peças teatrais, espetáculos de dança, audiovisual, palhaçaria, artes plásticas e literatura. Todos os 15 coletivos participantes são femininos. Entre eles estão As Clarianas, que fará pocket-show, Circo di Sóladies, grupo de palhaçaria que se dedica à pesquisa do gênero feminino, e Núcleo Sem Drama da Cia Cabra Orelana, com oito atrizes e cantoras em cena.
A idealização do evento, que nesta edição ganhou um recorte artístico-político feminino, é do Teatro de Rocokóz, grupo de circo-teatro de rua com 20 anos de estrada, nove destes sediado e com atuação ativa em Parelheiros, distrito com 200 mil habitantes, com oficinas para crianças e adolescentes, participação em conselhos locais de arte, cultura e meio ambiente.
Homenageando a escritora Tula Pilar (que morreu em abril deste ano), a Mostra busca colocar em cena problemáticas e questões sobre a vivência feminina.
A programação foi selecionada e organizada pela Curadoria Babado e Glamour (bordão utilizado pela poeta Tula Pilar), formada pelas integrantes do Teatro de Rocokóz e mulheres ativistas e artistas da região de Parelheiros.
Em 2017, o Teatro de Rocokóz realizou a primeira edição da Mostra de Teatro de Rua de Parelheiros. Sem qualquer tipo de subsídio ou fomento, apenas com apoio de atuantes e moradores locais, o evento contou com 18 coletivos do estado de São Paulo durante nove dias, fruto da militância pelo direito ao acesso de arte e cultura na região.
PROGRAMAÇÃO GRATUITA
DIA 17/7
Abertura do evento
17/7, quarta, meio-dia – Praça Júlio César Campos
Concentração de artistas e público com mote na causa feminina na Praça central de Parelheiros.
Cortejo rumo à Casa de Cultura de Parelheiros
17/7, quarta, 13h - Praça Júlio César Campos
Com 40 aprendizes de maracatu da escola CCA AuriVerde, da Chácara Santo Amaro, artistas da região e público, o trajeto de 500 metros será sinalizado pelos participantes com pegadas marcadas com tinta na rua. A proposta é incentivar o acesso da comunidade ao espaço cultural.
Debate sobre Feminicídio
17/7, quarta, 14h - Casa de Cultura de Parelheiros
O bate-papo será conduzido pela organizadora do evento, a Curadoria Babado e Glamour, junção de ativistas e artistas mulheres de Parelheiros. O objetivo é dialogar, alertar e conscientizar a comunidade sobre a violência contra a mulher, que cresce na região e em todo País.
Grafitasso
17/7, quarta,16h – escadaria de acesso à Casa de Cultura de Parelheiros
Grafiteiras de toda cidade realizam um Grafitasso. A ideia é chamar a atenção da comunidade para se apropriar da Casa de Cultura e usufruir da programação.
Pocket-show do grupo Clarianas
17/7, quarta,19h - Praça Júlio César Campos
No repertório, canções autorais que documentam o cotidiano da população periférica brasileira, em sua maioria negra. Temas como empoderamento feminino, dificuldades da população negra, herança cultural e religiosidade estarão envoltos às vozes das “lavadeiras”, tambores e harmonias sertanejas.
O grupo de cantadeiras urbanas investiga a voz da mulher “ancestral” na música popular do Brasil. O resultado é um canto-manifesto protagonizado pela fala feminina, indo desde os cânticos indígenas aos aboios sertanejos, passando pelas brincantes do coco, ladainhas do catolicismo popular, sambas de roda, maracatus, xotes, rezas e tambores africanos.
DIA 18/7
Workshop de Maracatu de Baque Virado com Ana Cacimba
18/7, quinta - 13h - Praça Júlio César Campos
O workshop visa aproximar os participantes da cultura do maracatu de baque virado, através do contato com cada instrumento que compõe o ritmo, suas histórias e seu contexto histórico e social. Durante a oficina os participantes conhecerão alguns dos diferentes toques que o maracatu abarca e poderão aprender na prática um pouco do Baque de Marcação, utilizado em Pernambuco.
A oficina será ministrada por Ana Cacimba, cantora, compositora, arte educadora e pesquisadora de culturas tradicionais. Ela é coordenadora, regente e cantora no Baque Fulô Braba e no Projeto Minas de Resistência.
Duração: 2 horas
Peça Volta ao Lar, com a Cia Teatro de Rocokóz
18/7, quinta - 15h - Praça Júlio César Campos
Baseado na obra Mulheres que Correm com os Lobos, da escritora mexicana Clarissa Pinkola, o Teatro de Rocokóz encena o conto Pele de Foca, Pele da Alma. A peça, que estreou em 2014, coloca em cena a importância do empoderamento feminino, a reconexão da mulher com seu instinto selvagem e a força materna. A dramaturgia é de Vivi Palandi e Ciléia Biaggioli, que assina a direção e integra o elenco ao lado da Laura Biaggioli e Julia Biaggioli.
Duração: 45 minutos
Pocket-show da Denise Alves
18/7, quinta 17h – Praça Júlio César Campos
Cantora, compositora e MC, aos 25 anos, Denise Alves é uma das vozes do Grajaú, periferia de São Paulo. Com um repertório de músicas autorais, convida o público para um mergulho em suas memórias fragmentadas em forma de canções. Passeia pelo ritmo da MPB, tendo influências do soul, blues e hip-hop.
Duração: 30 minutos
Espetáculo Estupendo Circo de SoLadies, com Cia. Circo di SóLadies
18/7, quinta 19h – Praça Júlio César Campos
Formado por palhaças, atrizes, acordeonistas, pesquisadoras e feministas, o quarteto mistura cenas clássicas do circo tradicional com música e poesia. Em Estupendo Circo de SoLadies, três palhaças cansadas dos mandos e desmandos dos patrões decidem criar seu próprio circo e rodar pelo mundo, após muito tempo trabalhando em teatros e circos. A situação da mulher está no centro da questão de todo o humor do grupo, fundado em 2013, por Tatá Oliveira e Lilyan Teles. Em 2016, juntaram-se a elas as artistas Kelly Lima e Verônica Mello. Através da linguagem cômica, o quarteto busca inspirar no público reflexões sobre o lugar da mulher no circo, nas artes e na sociedade.
Duração: 50 minutos
DIA 19/7
Espetáculo de dança com Caporimbó Álamos e Afro Divas
19/7, sexta - 13h – Praça Júlio César Campos
Apresentação de coreografia de carimbó com o grupo Caporimbó Álamos. Em seguida, o coletivo Afro Divas mostra a sua mistura de ritmos, como forró, carimbó e dança cigana. Formado em 2015, o Afro Divas reúne doze mulheres, entre 45 e 68 anos, da região de Parelheiros. Na trilha sonora da performance, músicas de Dona Onete (Lua Namoradeira e No Meio do Pitiú); Liah Soares (Tô Chegando); Lucinha Bastos (Lá Brasileira Carimbó e Pra Dançar Carimbó) e Sidney Magal (Sandra Rosa Madalena).
Duração: 50 minutos
Show da Bacia D'água
19/7, sexta - 15h - Praça Júlio César Campos
As composições da Bacia D'Água, banda de manas e monas afrodescendentes, são narrativas das experiências dos seus integrantes na sociedade. O trabalho tem influência da música africana e das cantigas de lavadeiras.
Duração: 35 minutos
Show O Coco, da Roda a Ginga, com Sambando com as Manas
19/7, sexta - 17h - Praça Júlio César Campos
O repertório da apresentação traz músicas populares brasileiras e autorais, com o intuito de propagar a cultura nordestina misturada com influências paulistas.
Duração: 80 minutos
Documentário Eu Quero Ouvir Maria - Relatos de uma Maternidade Solo, do coletivo Sasso
19/7, sexta – 19h - Praça Júlio César Campos
O documentário (2017) retrata o protagonismo e a solidão das mães-solo e de suas lutas políticas através da história de vida de oito mulheres da periferia de São Paulo que não contaram com a figura do pai na criação dos filhos. A produção é do Coletivo Sasso, dos irmãos Rafael Sasso, Samuel Sasso e Cristiane Rosa, que por 16 anos criou sozinha a filha Duda, no Grajaú. “Muitas de nós sofremos caladas e perceber que esse filme pode contribuir para a autonomia da mulher, que pode levar um debate dentro dos seus lares, é de extrema importância”, diz a atriz e produtora cultural Cristiane Rosa.
Duração: 70 minutos
DIA 20/7
Performance Somos Um, com Tambores de Saia
20/7, sábado - 13h - Praça Júlio César Campos
O grupo, que canta, dança e declama com abordagem temática das causas sociais, estreia Somos Um. A performance fala sobre a importância da luta contra o machismo, racismo, homofobia e gordofobia ser uma prática diária e de todos, como uma única voz. Os cinco integrantes - Thauany Magalhães, Lari Souza, Vitória Silva, Rosi Reis e DJ Du - mergulham na temática da igualdade de gênero, mostrando em seu trabalho a dificuldade de atingir a tão sonhada equidade. O grupo foi criado em 2017 em Embu-Guaçu, fruto de oficinas culturais realizadas no terceiro setor (ONGs).
Duração: 30 minutos
A Farsa do Açúcar Queimado Ou A Mulher que Virou Pudim, com Núcleo Sem Drama na Cia da Cabra Orelana
20/7, sábado - 15h - Praça Júlio César Campos
A comédia musical, que aborda temas feministas e satiriza passagens da história do Brasil, é inspirada na história de uma lavadeira condenada pela Inquisição vinte anos depois dos Pé-Rapados perderem a guerra para os Mascates do Recife. O espetáculo de rua, que alterna comédia com narrativa épica, tem dramaturgia e direção de Ana Souto. No elenco oito atrizes/cantoras/ instrumentistas do Grupo Núcleo Sem Drama, na Cia da Cabra Orelana: Amanda Nascimento, Ana Souto, Cris Lima, Egla Monteiro, Laura Rodrigues Alves, Rafaela Carneiro, Tamy Dias e Vitória Carine. As composições musicais originais (com letras de Ana Souto e música de Luísa Toller) são executadas ao vivo.
Duração: 60 minutos
Peça Tramarias, com As Trapeiras
20/7, sábado, 17h - Praça Júlio César Campos
Para evidenciar comportamentos machistas naturalizados no cotidiano, a encenação aborda a questão da violência doméstica contra a mulher – nas esferas física, moral, psicológica, patrimonial, sexual e virtual.
Sinopse: “Tecer era tudo que Maria fazia, tecer era tudo o que queria fazer”. Todos os dias bem cedo, Maria acordava e caprichosamente colocava em seu tear mágico linhas e fios que utilizaria para alinhavar o mundo ao seu redor. Tudo estava sempre em perfeita harmonia. Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o dia em que se sentiu só. E com isso, ela teceu um homem…
Composto pelas artistas, feministas e arte-educadoras Amabile Roberta (Amabile Inaê), Ivy Mari Mikami e Verónica Galvez Collado, As Trapeiras tem como pesquisa política e artística o feminismo, buscando compreender a luta e resistência das mulheres na sociedade patriarcal. Por meio de ferramentas teatrais como o circo, a dança e o Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, o coletivo busca compreender a mulher como protagonista de sua luta e libertação.
Tramarias (Proac 2015 - Primeiras Obras de Produção de Espetáculo e Temporada de Teatro) estreou em 2016 e circulou em 2017 e 2018 nos Centros de Referência e Defesa da Mulher (CRM e CDCM) do estado de São Paulo entre outros espaços de arte e cultura do Brasil. Em sua remontagem, reestreou no Sesc Pompéia no último dia 21/6 na programação Mulheres em Movimento.
Duração: 60 minutos
Sarau das Mina 20/7, 19h - Praça Júlio César Campos
A 42ª edição do evento realizado pelo coletivo Sarau das Mina será em homenagem a Tula Pilar (1970 – 2019), poeta que ganhou reconhecimento por participar e organizar saraus na periferia de São Paulo.
O sarau de música e poesia feito por mulheres tem microfone aberto e exibição do curta-metragem Tula Pilar (5min) - https://www.youtube.com/ watch?v=YJomL-J59B4 - produzido pelo coletivo Empoderadas. Homem pode ir para prestigiar, mas o palco é para as mulheres. A participação é garantida no ato do evento. Em todas as suas edições, o sarau já reuniu cerca de 3 mil pessoas.
O coletivo é composto por cinco mulheres, artistas e mães - Beatriz Matiola, Bruna Maciel, Jessica Angelin, Lilian Rosa e Paloma Almeida - que atuam na zona Sul de São Paulo, produzindo saraus itinerantes, com o foco de ocupar espaços e dar sustento a voz e representatividade feminina. Foi formado em 2015 em Interlagos.
Duração: 3 horas