A extensa obra de um dos mais produtivos fotógrafos brasileiros de todos os tempos poderá ser vista na Carlos Moreira: Retrospectiva — Wrong so Well, que o Espaço Cultural Porto Seguro exibe de 10 de agosto a 27 de outubro. Um trabalho de grande amplitude e plasticidade, comprometido com uma constante investigação da linguagem, que tem como objeto principal a cidade e suas figuras.
O título da mostra nasceu de uma anotação em inglês feita por Carlos entre as fotos digitais que escolhe e imprime: "I like when you do it right. But I really love when you do it wrong so well". Com curadoria de Fábio Furtado, Regina Martins e Rodrigo Villela, a exposição reúne 400 obras, organizadas em quatro grandes seções. São trabalhos de seu período clássico, pelo qual Moreira é mais conhecido, e também obras inéditas, que figuram metade do conjunto apresentado, fruto de um extenso mergulho no acervo do fotógrafo. Além disso, o público terá acesso à produção colorida do artista, feita entre os anos 1980 até os anos 2000, e o atual trabalho, majoritariamente feito em formato digital.
A mostra inicia com o primeiro livro de Carlos Moreira, de 1977, cujas páginas serão expostas em um amplo painel. Emblemático, com edição das imagens feitas por Rita Arantes e pelo próprio artista, o livro foi impresso com o que havia de melhor em tecnologia gráfica na época — Gráficos Brunner —, e já evidencia tanto a referência à tradição europeia como as especificidades do contexto sul-americano no qual se insere. É um importante exemplo do que posteriormente ficaria conhecido como a sua "fase clássica", plena de uma reconhecida geometria que é tão mais rigorosa quanto maior o efeito de liberdade que produz. Um período marcado pela sutis gradações de cinza, enquadramentos impecáveis e declarada inspiração no fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson. É aqui que Carlos estabelece também sua luz característica, que envolve toda a composição "como uma pátina", nas palavras do próprio fotógrafo. Essa qualidade plástica, ao lado da geometria da composição e de uma certa musicalidade na relação dos planos e formas serão elementos sempre marcantes em seu trabalho.
A segunda seção apresenta um recorte do imenso universo da fotografia colorida produzida por Carlos, cujo acervo, de cerca de 150 mil negativos cor, foi inventariado especialmente para esta exposição. A partir do final da década de 1980, por ter manifestado alergia aos químicos do laboratório - ele costumava revelar e ampliar suas próprias fotos -, Carlos começa a utilizar com mais frequência os filmes coloridos, revelados em minilabs, e a explorar as relações cromáticas.
O mergulho na cor passa por um painel de ampliações de época, feitas em 1994, ano em que o fotógrafo recebeu uma Bolsa Vitae. O resultado foram 12 álbuns, com ao menos uma foto colorida escolhida para cada dia. Para além do aspecto mais íntimo dos objetos e espaços do ambiente em que mora — como quadros, fotografias, livros e outros elementos —, Carlos costuma treinar determinadas composições que imagina dessa forma, dentro de casa, para então poder experimentá-las na rua com mais familiaridade.
"A possibilidade de adentrar neste vasto acervo de um fotógrafo em ação durante mais de 60 anos é um privilégio e também uma oportunidade de refletir sobre o gênero da fotografia de rua", afirmam Fábio Furtado e Rodrigo Villela, curadores da mostra. "É pensar e sentir como se dá a relação das pessoas com seu entorno e com os demais, a partir de uma sincera disposição ao encontro, ao entendimento do outro e de si e ao conhecimento sensível", completam.
Uma seleção de obras também nunca expostas compõe a terceira e quarta seções da mostra, que compreende sua produção digital mais recente. Numa primeira sala, as paredes cobertas com reproduções de cadernos feitos por Carlos de 2015 a 2018, com impressões que ele mesmo fez a partir de sequências fotografadas com diferentes câmeras. O trabalho é um tocante exemplo de uma total familiaridade com a linguagem da fotografia de rua, um diálogo consigo próprio e as diferentes fases que passou e também de uma busca atual, incessante, por aprofundar e explorar suas próprias abordagens. Na sala final, são exibidas sequências produzidas pelo fotógrafo muito recentemente e uma série feita em Buenos Aires, em 2017.
"Se isolarmos no trabalho de Carlos A. Moreira uma essência dominante, obteremos silêncio. Não que nada seja dito. Ao contrário. Tudo é dito numa linguagem essencialmente plástica e numa plástica essencialmente nítida e equilibrada, diria até meridiana. É a realidade em sua dimensão silenciosa. É o silêncio no homem, no seu bom e no seu mau, no seu trágico (principalmente) e na sua silenciosa satisfação, e nas coisas que são o seu meio. E o que é o silêncio? É um matiz da energia, aquele ponto sutil em que o existir deixa de ser qualitativo, na medida em que deixa de ser julgamento, atingindo assim uma realidade e um realismo feitos do que as coisas são, e não mais do que deveriam ser. E atingir um matiz da energia é o que talvez seja, em última análise, a função principal do poeta", tão bem analisou José Antonio Van Acker, artista plástico, amigo e uma das influências com que Carlos dialogou, em texto de 1976.
Embora seja uma apreciação feita ainda na primeira fase do fotógrafo, o elemento plástico parece permanecer como uma chave de aproximação à sua obra, permeando a cor e o digital, por mais radical ou complexa que sejam suas composições. É da plasticidade, segundo os curadores, que deriva também a marcante sensualidade de seu trabalho. Mais evidente nas séries em que fotografou na praia, é possível estendê-la à própria relação com a luz das cenas que encontra e nos personagens por ele fotografados.
A plasticidade da obra de Moreira permeia todas as fases e sua constante busca por novas soluções artísticas. Como na foto de um homem lendo um jornal, de 1976, no Viaduto do Chá, em São Paulo. Segundo o próprio Carlos, "quando olhei para esta foto, naquele momento, entendi que o mundo que eu fotografava até então estava em decadência, que algo tinha se quebrado. A pureza da abordagem de Cartier-Bresson, que tinha me inspirado fundamentalmente até então, precisava de novos elementos. Era preciso mudar".
Carlos Moreira: Retrospectiva - Wrong so Well
Curadoria: Fabio Furtado, Regina Martins e Rodrigo Villela
Local: Espaço Cultural Porto Seguro
Endereço: Alameda Barão de Piracicaba, 610. Campos Elíseos – São Paulo
Abertura: 10 de agosto, sábado, a partir das 11h
Período expositivo: de 10 de agosto até 27 de outubro
Visitação: de terça a sábado, das 10h às 19h; domingos e feriados, das 10h às 17h
Entrada gratuita
Capacidade: 305 pessoas
Acessibilidade
O edifício é acessível para pessoas com mobilidade reduzida. A exposição oferece atendimento especial na visitação com mediadores bilíngues em inglês, espanhol e libras mediante agendamento prévio.
Estacionamento
Alameda Barão de Piracicaba, 634 (sede Porto Seguro). De segunda a sexta-feira, gratuito pelo período de até 1h30 (1ª, 2ª e 3ª hora adicionais R$ 10,00 a hora. A partir da 4ª hora adicional, R$ 5,00 a hora). A partir das 17h30 e aos sábados, domingos e feriados - R$ 20,00 (preço único).
Serviço de vans:
O Complexo Cultural Porto Seguro oferece vans gratuitas da Estação Luz até o Espaço Cultural Porto Seguro. Na Estação da Luz, o ponto de encontro das vans é na saída da Rua José Paulino / Praça da Luz / Pinacoteca, em frente ao Parque Jardim da Luz. Há instrutores no local para orientar o embarque. Para mais informações, entre em contato pelo telefone (11) 3226-7361.
Horário de funcionamento do serviço de vans:
Terça a sábado das 9h à 0h. Domingo das 9h às 22h.
Gemma Restaurante:
Aberto todos os dias: segunda, das 12h às 15h; terça, das 10h às 17h; quarta a sexta, das 10h às 21h; sábado, das 11h às 18h; domingo, das 11h às 16h.