Amizade entre Federico Garcia Lorca, Salvador Dalí e Luis Buñuel inspira peça Fábula e Roda dos Três Amigos, que estreia dia 27/6 no Sesc Pinheiros


Localizada em Madrid, o instituto La Residencia de Estudiantes recebeu no início do século XX três artistas espanhóis que se tornaram cânones mundiais da cultura: o dramaturgo e poeta Federico García Lorca, o pintor Salvador Dalí e o cineasta Luis Buñuel. O encontro dessas três figuras durante a juventude e a amizade que estabeleceram é o mote do espetáculo Fábula e Roda dos Três Amigos, escrito por Flávio Ermírio, com direção de César Baptista e estreia marcada para dia 27 de junho, quinta-feira, 20h30, no Auditório do Sesc Pinheiros.

Segundo o dramaturgo, Fábula e Roda dos Três Amigos mistura elementos reais e ficcionais para criar um jogo de memórias e traçar paralelos históricos entre passado e presente. "Muitas situações que vivemos hoje já aconteceram de outra forma, como se o passado não tivesse ficado para trás totalmente, estivesse ainda entre nós, de alguma forma", justifica o autor. Sua escolha foi a de tratar esses elementos sem um apelo didático ou jornalístico, opção endossada pela direção de César Baptista, que cria elementos cênicos ora realistas, ora oníricos.

O diretor exemplifica destacando o uso da simultaneidade de tempo e espaço que Flávio propõe no texto: "Há uma cena inspirada em uma entrevista dada por Dali a um programa de televisão em que suas respostas são interrompidas e misturadas por um discurso de Lorca, que parece estar sendo interrogado pelo governo fascista que o assassinou tempos depois".

César ressalta que uma das facetas da montagem é a abordagem peculiar que Flávio faz dos artistas. "Eles são vistos na juventude, em desenvolvimento de uma personalidade que os tornou quem foram. Não há um foco apenas na excentricidade de Dali (interpretado por Iuri Saraiva), no surrealismo de Buñuel (Thomaz Mussnich) e na melancolia de Lorca (Oliver Tibeau), mas sim em questões mais complexas, como o papel da arte, a razão para praticá-la e o processo para encontrar a própria voz como criador", complementa. Na peça, haverá projeções e elementos cênicos que remetem às obras e ao estilo marcante dos três artistas – um exemplo é o uso de caixões que terão a função de trazer as personagens à vida e que em seguida se tornarão, metaforicamente, objetos variados, de modo a salientar a visão poética da criação.

Inevitavelmente, o espetáculo traça caminhos que contam muito sobre os dias de hoje, reforçando o quanto as vozes desses artistas eram reprimidas por não estarem em consonância com o discurso normativo da época. César, que foi assistente de direção de Antunes Filho por seis anos, conta que aprendeu com ele a recorrer aos grandes mestres quando não soubesse resolver uma cena. "Neste espetáculo, tinha muito a quem recorrer por estar lidando com três figuras cujas poéticas deveriam se friccionar naturalmente com a teatralidade do espetáculo", diz.

Cem anos depois desses eventos, vivemos mais uma vez sob o "império da lógica" do autoritarismo, que transforma os artistas em ameaças ao plano de destruição dos afetos, da solidariedade e das alteridades. Fazer teatro é criar espaço para o encontro das vozes e corpos que lutam para não desaparecer – Flávio Ermírio

A composição do texto, segundo Flávio, tem uma dramaturgia tradicional, com início, meio e fim, mas que abre espaço para textos fluídos, numa estrutura de colagem. "Há uma cena em que se misturam trechos do manifesto surrealista, de uma carta escrita por Dali e um poema de Lorca – ao declamarem juntos esses textos, damos um novo sentido para esses discursos", explica.

Apesar da peça não oferecer um protagonismo para nenhum dos três artistas, o ponto de vista da peça parte de Lorca, que foi fuzilado aos 38 anos pelo regime de ditadura espanhola imposto por Francisco Franco. O título do espetáculo é uma referência ao poema Fábula e Roda dos Três Amigos, escrito em 1930 por Lorca e que narra a amizade de três homens "pelo mundo das camas, pelo mundo das universidades, pelo mundo do sangue, dos mortos e dos jornais abandonados".

Ao final do poema, Lorca antecipa o próprio destino: "Quando se fundiram as formas puras sob o cri-cri das margaridas, compreendi que haviam me assassinado. Percorreram os cafés e os cemitérios e as igrejas, abriram os tonéis e os armários, destroçaram três esqueletos para arrancar seus dentes de ouro. Já não me encontraram. Não me encontraram? Não. Não me encontraram." Não há um registro que confirme que o poema foi escrito em homenagem a essas amizades, em específico, mas ainda que não o seja, é possível que o poema seja lido à luz desse encontro.

Serviço

Fábula e Rodas dos Três Amigos

De 27 de junho até 20 de julho de 2019. Quinta a sábado, às 20h30
Local: Auditório (98 lugares)
Valores: R$ 25,00 (inteira), R$ 12,50 (estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência) e R$ 7,50 (credencial plena do Sesc  trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes).
Classificação: 14 anos
Duração: 60 minutos

Sesc Pinheiros - Rua Paes Leme, 195
Bilheteria: Terça a sábado das 10h às 21h. Domingos e feriados das 10 às 18h
Tel.: 11 3095.9400
Estacionamento com manobrista: Terça a sexta, das 7h às 21h30; Sábado, das 10h às 21h30; domingo e feriado, das 10h às 18h30. Taxas / veículos e motos: para atividades no Teatro Paulo Autran, preço único: R$ 12 (credencial plena do Sesc) e R$ 18 (não credenciados). Transporte Público: Metrô Faria Lima – 500m / Estação Pinheiros – 800m

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