Um ano depois de sua bem-sucedida estreia, a adaptação dirigida por Zé Henrique de Paula para a distopia clássica 1984, do jornalista e romancista britânico George Orwell (1903-1950), volta em cartaz no Teatro do Núcleo Experimental, entre 1º e 24 de junho. O elenco é composto por Rodrigo Caetano, Zé Henrique de Paula, Gabriela Fontana, Eric Lenate, Marcelo Villas Boas, Inês Aranha, Laerte Késsimos, Felipe Ramos, Fabio Redkowicz e Chiara Scalett.
Considerado um dos romances mais influentes do mundo no século 20, 1984 foi publicado em 65 países e virou minissérie, filmes, quadrinhos, mangás, ópera e até inspirou o reality show Big Brother, criado em 1999 pela produtora holandesa Endemol. Recentemente, a obra foi transformada em uma adaptação teatral dos ingleses Duncan MacMillan e Robert Icke. Esta última versão foi o ponto de partida da montagem brasileira.
Escrita em 1949, a obra-prima de Orwell voltou a ganhar enorme destaque na era de Donald Trump, na qual a pós-verdade e os “fatos alternativos” tomaram conta da política. Prova disso é que o livro subiu na lista dos mais vendidos na Amazon desde a posse do presidente norte-americano e, segundo a editora, as vendas aumentaram em 10.000%.
A distopia se passa no fictício Estado da Oceânia, governado por um líder supremo chamado Grande Irmão, que chegou ao poder depois de uma guerra mundial que eliminou as nações e criou três grandes potências totalitárias. Esse Estado é pautado pela burocracia, censura e, sobretudo, pela vigilância. Quase sem qualquer forma de privacidade, cidadãos são espiados o tempo todo pelas “teletelas”, uma espécie de televisores espalhados nos lares e em lugares públicos, capazes de monitorar, gravar e espionar tudo.
Nesse lugar vive Winston Smith, funcionário do Ministério da Verdade, responsável por falsificar registros históricos para garantir que eles respaldem os interesses do Grande Irmão. O protagonista detesta o novo sistema, mas não tem coragem de desafiá-lo. Ele apenas declara seu ódio nas páginas de um diário secreto. Isso muda quando ele conhece Júlia, uma funcionária do Departamento da Ficção. Juntos eles sonham com uma rebelião e praticam pequenos atos de desobediência. A represália aos amantes será brutal.
“No Núcleo Experimental, costumamos dizer que os temas que nos interessam discutir sobre o palco são aqueles que nos provocam raiva. Esta montagem de 1984 vem contaminada dessa revolta, dessa profunda indignação em relação à Polícia das Ideias que persegue o livre pensamento e vaporiza quem não corrobora o sistema, em relação ao Ministério da Verdade que produz uma sequência interminável de notícias falsas que confundem e manipulam os fatos, em relação ao Departamento de Ficção que imbeciliza e amansa a população e até mesmo à Novafala, a tentativa do poder estabelecido de minar a linguagem ao ponto de impedir a capacidade de pensamento”, comenta o diretor.
Sobre a adaptação de Duncan MacMillan e Robert Icke, Zé Henrique de Paula acrescenta: “Ela ressalta e funde duas ideias aparentemente opostas, ficção e realidade. Qual delas é mais preponderante sobre a outra? Elas são necessariamente excludentes? No que acreditar mais, naquilo que se supõe ficcional ou no que nos ensinaram que é real? Em época de ficcionalização da vida privada através das infames redes sociais, os adaptadores colocam Winston Smith – que ainda traz em si uma centelha de consciência – no centro de um redemoinho de acontecimentos ora reais, ora ficcionais, que poderia muito bem ser encarado como um reality show a respeito do próprio Winston. Isso amplifica o alcance do romance e aproxima a distopia ao nosso presente”.
SERVIÇO
1984, de George Orwell, com direção de Zé Henrique de Paula
Teatro do Núcleo Experimental –
Temporada: 1 a 24 de junho
Aos sábados e às segundas, às 21h, e aos domingos, às 18h. (no dia 10/6 não haverá sessão).
Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$20 (meia-entrada)
Duração: 90 minutos
Classificação: 14 anos
Capacidade: 65 lugares
Informações: (11) 3259-0898