Enquanto Chão, solo da Próxima Companhia, reestreia na sede do grupo


O que duas comunidades distantes (uma em Palmas, Tocantins, e outra em Uberlândia, Minas Gerais) podem ter em comum? O ator Caio Franzolin encontrou esse ponto em uma pesquisa de campo realizada em conjunto com Carminda Mendes André (que foi sua orientadora em projeto de pesquisa de campo no Instituto de Artes da UNESP) e leva essas histórias para o palco em ENQUANTO CHÃO. O monólogo estreou no final de 2017 e já circulou por diversas cidades do Estado de São Paulo e volta para a sede d'A Próxima Companhia no próximo dia 23 de novembro.  Com direção de Rafaela Carneiro, a montagem d'A Próxima Companhia fala sobre as comunidades de Canela (TO) e Patrimônio (MG), aliando como expedientes teatrais a mímesis corpórea (técnica criada pelo LUME) e conceitos do Teatro-Documentário. A nova temporada da peça faz parte do projeto Tebas - A cidade em disputa, contemplado pela 32ª edição do Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo.


Ao estarem nas duas comunidades durante a pesquisa Intervenção Urbana como Tática Arte-educativa: Encontro com Foliões, os integrantes do projeto puderam observar que, em comum, mais do que as festas populares, pessoas incríveis e generosas, as duas localidades passavam pelo apagamento cultural – seja material ou imaterial - de suas manifestações culturais e até mesmo de histórias pessoais, em prol do progresso, especulação imobiliária e avanço de uma sociedade sem apego com as raízes do povo. 


No espetáculo são diversas histórias e personagens encontradas que dialogam com o espetáculo no limite do real e do ficcional, num discurso dramatúrgico entre a denúncia, a reflexão e o signo poético, com dramaturgia de Solange Dias.  O texto apresenta transcriações de relatos de habitantes das comunidades, do modo de vida dessas pessoas e busca entender o processo de apagamento desses territórios em disputa no interior do Brasil.


A narrativa segue a mesma linha de uma memória, como explica Caio Franzolin. "Não temos uma narrativa linear. É como se o narrador fosse lembrando das conversas, das pessoas, dos detalhes das histórias e isso fosse sendo apresentado em cena da mesma maneira, em uma narrativa fragmentada povoada pelas figuras em uma grande festa", afirma o ator. 

Relações informais com o público

Quando Rafaela Carneiro entrou no processo de ENQUANTO CHÃO, já existia uma versão embrionária da montagem. "Sempre me interessei muito na pesquisa da técnica da mímesis e por isso achei o projeto muito bacana. Como diretora, acabei fortalecendo o papel do narrador, que faz uma intermediação entre todas as personagens, bem como também o absurdo político da história. Busquei trazer os ricos relatos coletados em Canela e Patrimônio para um âmbito maior, mostrando que aquele não é um problema localizado", explica.

Rafaela também disse que a intenção da equipe nunca foi ter uma peça contemplativa, numa relação mais frontal e formal com o público. A ideia é que as pessoas sintam-se participando de uma roda de conversa ou de uma festa – o que fica bem claro no cenário assinado por Caio Marinho. "Queríamos reproduzir uma roda de quintal, numa relação mais informal com a plateia e num espaço circular. Teremos distribuição de café e comidas inspiradas nas duas localidades, aproximando ainda mais o ator e o público", conta o cenógrafo. 

Caio Franzolin explica um pouco mais sobre essa relação com o público: "convidamos as pessoas para a arrumação de uma festa que ainda vai acontecer. É isso que vai nos conectar com as nossas raízes. O teatro só é possível pelo encontro. Quer encontro maior do que uma festa e toda a sua preparação?", questiona. 


ENQUANTO CHÃO – Reestreia no dia 23 de novembro, na sede d'A Próxima Companhia. Apresentações até 15 de dezembro, sextas e sábados, às 21 horas,. Ingressos - Pague quanto puder. Capacidade - 40 lugares. Duração – 70 minutos. Recomendação etária Acima de 12 anos. 


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