Integrante do Festival Varilux de Cinema Francês desse ano, “Carnívoras” estreia nos cinemas dia 13 de setembro, com distribuição da Bonfilm, em Brasília, Florianópolis, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. Primeiro filme dirigido pelos irmãos belgas Jérémie e Yannick Renier, ambos atores, o longa mostra a relação conflituosa de duas irmãs atrizes, que tem percursos opostos nas suas carreiras e nas vidas pessoais. E, quando passam a morar juntas, essas diferenças e rivalidades se acentuam e acabam por interferir na vida de ambas.
“Você não tem vida, não tem homem, não tem filho, não tem nada! Você não é nada, Mona!”, diz Sam à Mona, em cena do trailer. de “Carnívoras”. Premiada com o César de Melhor Atriz Promissora em 2016 por “Fátima!”, Zita Hanrot interpreta Sam, atriz reconhecida profissionalmente, casada e mãe de um menino, mas que não consegue dar conta de sua própria vida.
Ela recebe em sua casa a irmã mais velha, Mona, personagem de Leila Bekhti, que também é atriz, mas que não teve sucesso na carreira e está sem trabalho e sem dinheiro. Aos poucos uma ambiciona a vida da outra.
O tema dos irmãos inimigos, explorado em “Carnívoras”, reflete a própria experiência dos irmãos Yannick e Jérémie, ambos atores, um com uma carreira mais consolidada do que o outro. Jérémie e Yannick sempre tiveram vontade de trabalhar juntos como diretores. A ideia para o roteiro original surgiu após um acontecimento vivido pelos dois. Em uma viagem de divulgação de um filme no qual contracenavam, Jérémie, o caçula que alcançou sucesso mais cedo, recebeu um telefonema e, por causa disso, Yannick o ajudou com sua bagagem. Ele relembra: “Quando desliguei, eu vi toda a equipe do filme nos observando como um clichê vivo: o ator de cinema seguido por seu irmão mais velho e menos conhecido, cheio de bagagem de ambos. Foi tão patético quanto hilário porque não reflete em nada a natureza do nosso relacionamento. Mas essa anedota foi a inspiração para o tema de um filme que, a princípio, seria uma comédia”.
Jérémie explica: “Antes de trabalharmos juntos, não estávamos cientes de que falar sobre nossa relação como irmãos iria forçosamente revelar afetos complexos. Foi somente quando começamos a escrever que entendemos que, como todos os irmãos e irmãs do mundo, tínhamos velhas contas a serem acertadas”. Yannick acrescenta: “O entusiasmo um pouco ingênuo com o qual tínhamos começado a escrever progressivamente se transformou em uma introspecção mais sombria. Bem rapidamente, o mito dos irmãos inimigos Abel e Cain se impôs como uma fonte de inspiração. Sam e Mona não podem brilhar juntas, uma eclipsa a outra, e isso não depende da vontade delas. Eu vejo lógico então que a comédia inicial se tornou aos poucos um filme de gênero, que ia nos dar a latitude necessária para deixar nossas pulsões – até as mais sombrias – se expressarem.
Um elemento que faz com que o filme se pareça a um thriller é também a sua economia de diálogo: tudo se expressa através dos corpos e dos olhares, e a relação entre as irmãs é quase carnal, animal. A diferença na personalidade delas e a relação misturada de amor e ciúmes que vivenciam se traduzem sobre tudo pelas atitudes. É mais como um filme de gênero que como um filme de autor que “Carnívoras” encontra sua identidade. Ele consegue ir além do assunto tratado e se tornar parte de uma história maior, mais geracional, se dirigindo a um público mais amplo.